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Coronel Pedro Lopes Vieira: o atalaiense que governou Florianópolis

“Homem do norte a serviço do sul”, escreveu Adão Miranda para a revista Atualidades.

Phablo Monteiro
Por: Phablo Monteiro
28/11/2020 às 13h15 Atualizada em 09/07/2024 às 10h52
Coronel Pedro Lopes Vieira: o atalaiense que governou Florianópolis
Coronel Pedro Lopes Vieira.

Em 9 de julho de 1889, nascia em Atalaia, Alagoas, Pedro Lopes Vieira. Filho de Joaquim de Albuquerque Vieira e de Maria Felicíssima Lopes de Albuquerque.

Ainda muito jovem, em agosto de 1904, com apenas 15 anos, deixa sua cidade natal para ingressar nas fileiras do Exército Brasileiro, na condição de voluntário, pelo período de dois anos. 

Em 1912, era sargento intendente do 5º Regimento de Infantaria em Ponta Grossa, Paraná. Foi cotado para ser nomeado capitão do Corpo Policial de Alagoas. Em 10 de janeiro de 1912, foi nomeado Tenente do 119º, na Comarca de Antonia, membro da Guarda Nacional no Estado do Paraná.

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Com apenas 25 anos de idade, em 1914, em Ponta Grossa, casa-se com a senhorita Hermozilla Peixoto, a “Ziloca Lopes”, descrita anos mais tarde pelo jornal O Estado como uma “uma senhora dotada de boníssimo coração e que pelos reconhecidos sentimentos religiosos tem sido uma das grandes amigas e auxiliadoras dos pobres da Capital (Florianópolis)”.

Já residindo em Santa Catarina, se mostra um grande admirador e incentivador do futebol. Em 1918, foi um dos fundados da Liga Esportiva em Florianópolis, sendo seu primeiro vice-presidente, colaborando assim com o desenvolvimento do futebol nesta cidade. Neste mesmo ano também organizou a S. B. R. Foot-Ball-Clube “União Faz a Força”, equipe do 13º Batalhão de Infantaria. Era seu Presidente.

Como instrutor do Tiro 226, em 1919 é autorizado pelo Tenente Mesquita, instrutor das linhas de tiro do Estado, a formar um Batalhão. Era algo considerável “irrealizável”, segundo o Jornal O Município de Joinville. “A primeira vista parece uma coisa irrealizável, mas se procurar ver qual o efetivo do Tiro e os elementos dos novos postos, chega-se a conclusão que ultrapassa o número suficiente de praças para a organização do Batalhão. Organizado o Batalhão, ficará o Tiro 226 na vanguarda dos Tiros do Estado, o que já é, e será um dos melhores do Brasil”.

Decorrido 15 anos e 4 meses, foi excluído do Exército por conclusão de tempo, com a graduação de sargento-ajudante. “Sua fé e oficio como guarda da Pátria, nada deixou a desejar”, destaca discurso feito pelo 1º Tenente Ajudante secretário Aldo Fernandes, publicado no Jornal O Dia.  

Em 29 de outubro de 1920, por intermédio do então Governador Hercílio Pedro da Luz é aproveitado na Força Pública de Santa Catarina (atual Polícia Militar), no posto de 2º Sargento, efetivado neste posto em 31 de dezembro daquele ano.

A 13 de janeiro de 1922, foi promovido por merecimento ao posto de 1º Tenente e designado para comandar interinamente a 1ª Companhia Isolada de Herval. “Na gestão desse cargo, bem demonstrou o seu verdadeiro tino administrativo, incutindo no espírito dos seus camaradas a dedicação a instrução e a fiel observância dos nossos regulamentos”, comenta o secretário Aldo Fernandes.

Em 10 de setembro de 1922, é promovido a Capitão, por merecimento. 

Foi Delegado de Polícia em diversos municípios catarinenses: Três Barras (1920), Vallões, Timbó e Jararaca (1921). Também exerceu a função de delegado especial da cidade de Joinville.

Em 1924, enquanto Capitão e Comandante da 2ª Companhia Isolada no município de Porto União/SC, foi responsável pela organização e pelo comando do 2º Batalhão de Infantaria, que integrou as tropas legalistas contra a Revolta Paulista insurgida naquele ano. 

Atuação digna de elogios

O então governado do Estado de Santa Catarina, Dr. Hercio Luz, recebeu do Major Reis e Silva, comandante do destacamento federal, no Porto União, o seguinte telegrama: “Porto União, 16. Deixando o comando da Força Federal aqui destacada, cabe-me agradecer os auxílios prestados pela força policial catarinense. O Capitão Pedro Lopes Vieira e seus oficiais são merecedores de elogios pela lealdade e dedicação com que me auxiliaram no sentido de evitar possível alteração da ordem pública”.

Por sua atuação, é nomeado por merecimento ao cargo de comandante. “Pelos serviços que esse distinto oficial tem prestado ao Estado, em diversas comissões de confiança e pelo escrúpulo e competência que tem revelado em seu posto, como militar, é de salientar a justiça de sua promoção, pelo que lhe prestamos nossas felicitações”.  

Revolução no Paraná. Em 1924 o Batalhão da Policia do Paraná estava em ação contra um grupo de rebeldes. O 2º Batalhão da Força Pública de Santa Catarina, comandado pelo atalaiense Major Pedro Lopes Vieira, também lá combatia pela legalidade e em defesa da ordem. 

Através de oficio, o General Azevedo Costa, Comandante da Coluna do Sul em operações de guerra, louvava os “valorosos do 2º Batalha da Força Pública, que sem estardalhaços e quase esquecidos, valentemente defendia a pátria e o bom nome do Estado”.

O General Azevedo Costa, ao dissolver a Coluna Sul em operações de guerra no Estado de São Paulo, expressou-se em seu boletim n. 63 de 19 daquele ano, da seguinte maneira, quanto ao sr. Major Pedro Lopes Vieira, comandante do 2º Batalhão de Infantaria.

“Agradeço ao bravo major Lopes os inestimáveis serviços que prestou com a sua valorosa tropa à causa legal e louvo-o com prazer pelo seu espírito disciplinador, enérgico e abnegado e pela sua nunca desmentida lealdade. O seu Batalhão foi um dos mais prestimosos elementos da coluna de operações do sul, estando sempre pronto para qualquer missão, sem olhar sacrifícios ou dificuldades de quaisquer espécie, como demonstrou, entre outras vezes, no combate de Botucatu, onde tomou parte saliente muito concorrendo para a derrota dos rebeldes”

Em 1924, o desembargador Anthero Xavier de Assis, então chefe de policia de Santa Cataria, assim descrevia o quartel da 2º Companhia Isolada, sob comando do capitão Pedro Lopes Vieira. “Não poderia ser melhor a impressão que nos causou essa agradável visita que nos proporcionou o ensejo de verificarmos a ordem, disciplina e asseio reinantes na modelar caserna que faz honra ao seu digno comandante. A alegria que notamos nas juvenis fisionomias dos soldados, demonstravam o bem estar e o carinhoso cuidado que lhe são dispensado, nesta que é uma das mais belas escolas de civismo que nos foi dado conhecer”.

Considerado um dos mais competentes oficiais das forças públicas do Estado, o Capitão Pedro Lopes Vieira, comandando uma força policial de 100 praças, sai de Florianópolis com destino a Porto União. A Força Policial iria se juntar a 2º Companhia Isolada em Porto União, a qual seguirá para São Paulo em defesa da legalidade.

A revolução militar, considerada “criminosa”, teve inicio em são Paulo em 5 de julho de 1924. Um movimento classificado contra as Instituições e contra a Pátria. 

Em mensagem apresentada ao Congresso Representativo, em 22 de julho de 1925, pelo Coronel Antonio Pereira da Silva e Oliveira, vice-governador, no exercício do cargo de Governador do Estado de Santa Catarina. “Em tão dolorosa emergência para a República e para o próprio Brasil, ... Santa Catarina cumpriu nobremente o seu dever, concorrendo eficazmente, com bravura dos seus soldados, para a vitória da legalidad”.

O Governo organizou o 2º Batalhão de Infantaria da Força Pública e fê-lo seguir par São Paulo, sob o comando do major Pedro Lopes Vieira. Da bravura, da dedicação, do espírito de sacrifício e da lealdade dessa valorosa unidade, desde os oficiais até o último soldado, dizem os louvores das populações do interior de São Paulo e, mais do que isso, os elogios calorosos dos chefes a cujas ordens esteve, a começar pelo ilustre eminente general Rondon, comandante do exercítico legalista em operações contra os rebeldes.

Tive de promover ao posto de tenente coronel o Major Pedro Lopes Vieira, comandante do 2º Batalhão, que fez toda a campanha contra os rebeldes em São Paulo e no Paraná, em virtude do seguinte telegrama do ilustre sr. general Candido Mariano da silva Rondon: “Quartel General, Guarapuava, 16 de junho de 1925. Tenho a mais viva satisfação de comunicar a V. Exa. que partiu hoje da Estação Iraty para essa Capital o segundo batalhão da Força Militar do Estado do comando do bravo major Lopes, que tanto se distinguiu nos combates de Fazenda, Floresta e Queimada, da frente de Catanduvas. O major Lopes se distinguiu pela sua excepcional bravura, conduzindo a sua tropa aos combates com rara coragem, muita energia e heróica firmeza. É um oficial competente, brioso, disciplinador, digno da minha estima e admiração, e merecer de promoção por ato de bravura. Os oficiais de seu comando honram o nome da corporação e as parcas o nome glorioso de Santa Catarina. Atenciosas saudações".

Em 1925, após a batalha no campo de operações contra os rebeldes, o 2º Batalhão retorna de trem à Florianópolis, admirados por sua disciplina e bravura. Em homenagem a chega do 2º Batalhão foi realizada na Catedral, solene missa e Te-Deum, mandados celebrar pelo governo do Estado.

Major Pedro Lopes Vieira, que a comandou em todas as operações contra os rebeldes, cuja força policial praticou verdadeiros atos de heroísmo, o que valeu diversos elogios pelos comandantes chefe das tropas em São Paulo e Paraná. 

Ao tempo da revolução que teve inicio em são Paulo e que em seguida irradiu-se pelos Estado do sul, o Coronel Lopes Vieira ao lado da milícia catarinense, tomou naquela luta a mais saliente posição, tendo acompanhando toda a campanha até a sua última fase, o brilhante oficial e seus comandados postaram-se admiravelmente durante os sombrios dias dessa luta travada entre irmãos”, destacou reportagem do Jornal República, de Florianópolis, em 31 de janeiro de 1929.

Nomeado comandante da Força Pública de Santa Catarina em 25 de julho de 1925. 

Resolução Nº 4520 – O Coronel Antonio Pereira da Silva e Oliveira, vice-governador no cargo de governador do Estado de Santa Catarina, no uso das suas atribuições:

RESOLVE: nomear o tenente-coronel Pedro Lopes Vieira para exercer o cargo de Comandante Geral da Força Pública, percebendo os vencimento que por lei lhe competirem.

Palácio do Governo em Florianópolis, 25 de Julho de 1925.

Em 15 de julho de 1925, o então secretário do Estado, senhor Ulises Costas, transmite elogios ao tenente coronel Pedro Lopes Vieira. “O exmo. Sr. cel. Governador do Estado, manda que seja elogiado em boletim do comando Geral da Força Pública, o sr. tenente coronel Pedro Lopes Vieira, comandante do 2º Batalhão de Infantaria dessa corporação, pela ordem e asseio irrepreensíveis que s. exa. verificou ontem, pessoalmente, na visita feita ao prédio onde se acha acantonada provisoriamente aquela unidade. Impressionou a s. exa. a moral dos oficiais, inferiores e praças daquele Batalhão, tudo manifestando uma grande alegria e um grande orgulho no cumprimento dos seus árduos deveres. O sr. Governador do Estado julga-se no dever de acentuar de maneira pública e solene os seus calorosos elogios ao sr. tenente coronel Pedro Lopes Viera”. O referido elogio foi publicado em Boletim da Força Pública, sob o nº  197, do mesmo mês.

Remodelador da Força Pública.

Iniciou o processo de reestruturação da corporação, passando a Coronel em 1926.

Responsável pelo primeiro exame de recrutas da Força Pública, que se estabeleceu como a única forma de acesso aos postos de cabo e de sargento combatente. Instalou a Escola Regimental Marechal Guilherme, que contava com curso de alfabetização e ensino de 1º a 3º grau. Criou a biblioteca, posteriormente denominada Capitão Osmar Romão da Silva, o Curso de Preparação Militar e Aperfeiçoamento de Oficiais (hoje Academia de Polícia Militar), e a seção de Bombeiros (hoje Corpo de Bombeiro Militar). Implantou o serviço de radiocomunicação em Florianópolis/SC e duas companhias isoladas.

Inauguração em 1928 da Enfermaria Regimental. “Cabe ao sr. coronel Lopes Vieira, a sua vontade firme e inabalável, o arrojo desta obra, vencendo todas as dificuldades, sem outra preocupação, que sinceramente servir aos seus camaradas e subordinados, tornando uma realidade, o empreendimento que ora vemos, fruto quase exclusivo, de economia na sua gestão administrativa”, destacava o jornal O Miliciano, em publicação de maio de 1928.

Todo o meu passado nesta Força eu o ofereço a vós todos oficiais e praças, que tendes sido valiosos auxiliares para a conquista de todos os nossos louros e de todas as nossas vitórias, arrancando-a do marasmo em que, apesar de gloriosa nos campos da honra, era há três anos, quase dolorosa, no terreno dos confortos que são a todos os que trabalham para a honra e grandeza da pátria comum”, Coronel Pedro Lopes Vieira, em discurso proferido em 9 de julho de 1928, em evento realizado em homenagem a passagem do seu aniversário.

Discurso proferido pelo major Floriano Cruz, Comandante da Guarnição Federal em 1928. “Lopes Vieira não é um nome que surge hoje, não é um nome comum, é um nome, sim, de uma personalidade que trouxe para o Estado de Santa Catarina, uma brilhante fé de oficio e lhe tem dado as maiores provas de satisfação e de orgulho. Representa ele a expressão máxima do soldado, do administrador, do cidadão excelente, do chefe de família exemplar, do amigo bom, franco, sincero e leal”.

Valoroso, inteligente e criterioso, o cel. Pedro Lopes Vieira se impõe à estima geral e particularmente ao respeito e admiração dos seus comandados, que hoje (data do seu aniversário) lhe prestam sinceras e justas homenagens. A sua lealdade e a sua bravura postas á prova nas lutas pela garantia de ordem nos sertões catarinenses, valeram-lhe a confiança do Governo e essa confiança cresce cada vez mais, em vista de tenacidade com que o sr. cel. Lopes Vieira tem trabalhado pela organização, administração e moralização da Força Pública”, destaca nota publicada pelo Jornal O Estado, em 9 de julho de 1928.

Em 1928, regressa à Atalaia

Em 17 de julho de 1928, faleceu em Atalaia, Estado de alagoas, onde residia, a senhora Dona Maria Felicíssima Lopes de Albuquerque, aos 62 anos de idade, mãe do Coronel Pedro Lopes Vieira. Registrava nota lutuosa o jornal O Miliciano. “Não quis o destino, quase sempre adverso, que o Coronel Lopes Vieira, há uma dezena de anos longe do lar, revesse o ente idolatrado que lhe deu o ser. E, não estaria longe o dia em que sua senhoria iria rever os seus venerandos pais, matando-lhes as saudades cada vez mais crescentes, pois todos nós sabíamos da sua breve viagem à terra natal”. Após a noticia, seguiu em viagem à sua terra natal.

Presidente da Federação Catarinense de Futebol

Em 1929, sua paixão pelo futebol, o faz ser o escolhido com ocupar o cargo de Presidente da Feredação Catarinense de Desportos. “Prestou a Federação o valoroso concurso de sua boa vontade, operosidade e prestigio, tendo conseguido em poucos meses de sua admirável gestão, erguer a Federação do sorvedouro em que a encontrou. Deixou agora as funções de seu cargo de presidente, em vista da descabida má vontade que vinha encontrando por parte de alguns membros da Diretoria”, destacava jornal da época.

Sua gestão contratou uma empresa de transmissão de Rádio para transmitir os jogos da Seleção Catarinense pelos estados brasileiros.

Em 1930, ainda como presidente da Federação catarinense dos Desportos, inaugura o Estádio Adolpho Konder, na Rua Bocayuva. Graças a atuação do seu presidente, com isso o estado passava até “uma das mais confortáveis praças, onde a juventude pode entregar-se nos exercícios dos desportos terrestres”, comemorava a publicação do jornal A república, de maio de 1930.

Coronel Lopes Vieira discursa na inauguração do Campo da Liga, em 1930. Crédito: Acervo Coronel Edmundo-José de Bastos Júnior. Site ndmais.com.br

Revolução de 30

Ainda em 1929, entra para a política. Correligionário do Partido Republicano Catarinense, contribuí para a aquisição do prédio sede do partido em Florianópolis.

Em 1930 é contado para disputar o cargo de prefeito da cidade de Porto União. “O coronel Pedro Lopes Vieira é para o eleitorado de Porto União, o homem capaz de conduzir o município ao seu lugar de destaque que lhe compete, fazendo-o formar ao lado dos seus mais adeanjados irmãos”, destacava de Porto União, em 31 de agosto de 1930, o jornalista Andy Madeira, para o Jornal Folha Nova.

Continuava a publicação enaltecendo as qualidades de seu pretenso chefe do executivo: “Pedro Lopes é um homem nas condições que Diogenes procurava pelas ruas de Atenas, de caráter ilibado, capaz de todas as realizações, mesmo das que a outrem pereçam irrealizáveis. É o administrador que sorverá em pouco tempo, com operações inteligentes e sem sacrifícios para os seus munícipes, fazendo quem sabe até, aparecer saldos orçamentários”.

Ainda alheio às disputas políticas, seu alto prestigio era visto como uma candidatura que viria acalmar as divergências entre as duas correntes políticas que disputavam aquele cargo.

Quando em setembro de 1930, o Movimento Revolucionário comandado por Getúlio Vargas, adentra em Florianópolis, sem muitas resistências. A tropa sob seu comando, que fazia resistência ao Movimento Revolucionário, foi rendida.

O Coronel Pedro Lopes Vieira, até então comandante geral da Força Pública, acompanhado dos oficias, que se encontravam na capital, apresenta-se no dia 25 de outubro no Palácio do Governo, ao general de divisão Ptolomeu Assis Brasil, governador interventor. O governador os deu ordem para apresentar-se ao Quartel General das Forças Revolucionárias.

Em 6 de novembro de 1930, dias depois da vitória do movimento revolucionário perante o qual a tropa sob seu comando foi a última a depor as armas, foi exonerado de seu cargo, demitido do posto de coronel e, consequentemente, excluído da Força Pública. Assumindo em seu lugar o coronel Amadeu Massot, da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul.

Retorna ao estado do Paraná, para fixar novamente sua residência.  E, em junho de 1931, os jornais coritibanos da época noticiavam. “Informam ter chegado à capital paranaense o ex-coronel comandante da Força Pública Catarinense, o qual foi preso na cidade de Palmeira pelo sr. capitão Mario Vicente de Castro, por suspeita de conspiração contra o regimento revolucionário, de parceria com outros ex-oficiais e elementos civis”.

Sua detenção durou algumas horas. Regresso novamente a Palmeira, onde estava há aproximadamente um mês tratando de sua saúde. 

Perdendo seu posto na Força Pública, tentou na justiça ainda em 1931, obter sua integração. “A presente petição está prejudicada, pois o requerente na mesma data apresentou recurso ao Governo da República”, Indeferido. 

A perseguição que lhe foi imposta pelo regime revolucionário, ainda o acusou de desvio da importância de quatro contos de reis, suspostamente constatado na liquidação da cantina da mesma Força.

Sobre sua prisão, o ex-coronel Pedro Lopes Vieira se defendia em artigo publicado no jornal O DIA, em 3 de fevereiro de 1931. “A mesma (prisão) não passa de uma deslavada mentira de inimigos gratuitos, pois, o que houve foi a vinda a esta localidade do 1º tenente do Exercito, Vicente Mario de castro, que, por deprecada, tomou o meu depoimento, como testemunha em um inquérito instalado em Florianópolis. Aqui estou em descarço da enfermidade de que fui acometido e nunca me passou pela idéia conspirar contra esse ou aquele regime”.

Passa a residir em Ponta Grossa, Paraná. Em julho de 1933, é acusado novamente de participar de uma conspiração contra o novo regime. É preciso em Ponta Grossa, por solicitação do Governo do Estado de Santa Catarina, que justificava a ação como uma forma de prevenção. Incomunicável com a família, foi transferido para Curitiba, onde aguardou ordens das autoridades daquele estado.

Resolvida essa questão, o ex-comandante resolve retornar e fixar residência em Santa Catarina. 

Logo após volta suas atenções para o futebol, como presidente da Junta Reorganizadora da Federação Catarinense de desportos.

Excluído da Força Pública Catarinense após a revolução de 1930, por não ter apoiado o movimento, foi readmitido, junto com outros oficiais, por ato do Governo Federal em 1934. “Cel Pedro Lopes Vieira e outros. Abraços velhos amigos, rogando aceitar e transmitir bravos camaradas digna Força Pública catarinense, minhas vivas felicitações justa reversão lidimo ato de justiça emanado do Governo revolucionáro, valorosos companheiros que sempre souberam cumprir o dever militar”, Cel. Sylvio Van Edven.

Em 1936, passa a ser sócio do Jornal Diário da Tarde.

Em julho de 1937, o jornal A Noticia já o coloca como uma “figura de larga projeção nos círculos sociais e políticos da capital do Estado”.

Em 1943, assume o cargo diretor-presidente do Banco de Credito Popular e Agrícola de Santa Catarina, com sede em Florianópolis.

Trajetória Política

Em 1945, fazia parte da diretoria do PSD de Santa Catarina. Em março daquele ano, por decreto, o Interventor federal no Estado o nomeou para cargo de prefeito de Florianópolis.

Em 15 de março de 1945, as 15 horas, tomou posse do cargo de prefeito municipal de Florianópolis, o Coronel Pedro Lopes Vieira. Oficial reformado da Força Policial do Estado e Diretor gerente do Banco Agrícola. Ao ato compaeceram importantes autoridades do Estado, entre ela o interventor federal no Estado, Dr. Nereu Ramos.     

“Figura de grande destaque no cenário político catarinense, onde goza de geral estima, o sr. Cel. Lopes Vieira, colaborando na patriótica administração do sr. Dr. Nereu Ramos, vem de prestar ao Estado, que já muito lhe deve, mais esse serviço”, destacava o Jornal Correio do  Povo, no dia 17 de março de 1945.

“Imprimindo rumo seguro à administração que vem concretizando, sabe Deus com que sacrifício, o ex-comandante da Força Policial do Estado, é bem o fiel democrata que trabalha, junto ao seu povo, na realização de um programa de governo que bem merece a propaganda dos homens de imprensa. Afável, honesto, humilde e, sobretudo, cidadão probo e de ideais democráticos, o ilustre brasileiro tem sabido viver as nossas glórias e as nossas refregas, na conquista serena e certa dos nossos ideais de homens-do-sul. A posição que sempre ocupou na administração pública, quer servindo ao Estado, quer ao Município, mas, sempre ao Brasil, tem alcançado êxito através das suas qualidades excelsas, formando, sempre, ao lado dos que, acima dos seus interesses, vem, tão somente, os de uma Pátria maior. Como soldado e como cidadão, o mesmo homem: disciplinado, corajoso nas atitudes e humilde na obediência aos princípios da democracia”, Adão Miranda, para a revista Atualidades.   

A publicação do Correio Paulista, de 7 de outubro de 1945, exclamava “A TRANSFORMAÇÃO DE FLORIANOPOLIS NUMA DAS MAIS BELAS CIDADES DO SUL DO PAÍS”. A publicação paulista também expressava: “Entregue a um administrador experiente e com larga folha de serviços prestados à coletividade, o Coronel Lopes Vieira, a capital do Estado de Santa Catarina entrou em uma fase de grandes transformações, tendentes a torná-la uma das mais lindas cidades do sul do país, dotada de requisitos modernos de higiene e de conforto e beneficiada por um plano de obras urbanísticas dignas de nota. O surto progressista de Florianópolis se observa em todos os seus aspectos, mostrando-se o governador do município verdadeiramente incansável no estudo e solução dos problemas mais perto ligados à vida da formosa cidade litorânea”.

Como prefeito foi um dos mais incansáveis, dando impulso invulgar à assistência social. Promoveu o calçamento de ruas e avenidas, reformou o jardim Oliveira Ribeiro, entre outros. Do relatório do Sr. Raimundo Rothshal, então diretor de Obras Públicas da Prefeitura da capital catarinense, podemos extrair o seguinte resumo: Em 1946, foram construídas 12.135 metros quadrados de meio-fios, reformas em jardins e praças. O calçamento beneficiou a rua Pedro Moura, avenida Rio Branco, rua 24 de Maio, rua Francisco Tolentino, avenida Mario Ramos, rua Joinville, cais Frederico Rolla e outras. Durante o mesmo período foram construídas na cidade 120 casas, algumas de muitos andares, 26 acréscimos em prédios já existentes, 14 depósitos para vário fins; 17 reformas, 12 muros, 4 platibandas, 4 marquizes e um posto de gasolina. ...Os Hospitais são bem aparelhados e contam com aparelhos modernos”.

Em 27 de dezembro de 1946, já visando à disputa de uma cadeira Assembleia Legislativa de Santa Catarina, lhe é concedida licença do cargo de prefeito de Florianópolis. Assume nesta data, por ato do interventor federal, o senhor Manuel Ferreira de Melo. 

Prefeito municipal em licença do cargo, concorre na eleição de 19 de janeiro de 1947, ao cargo de deputado estadual Constituinte pelo Estado de Santa Catarina. Foi o mais votado com 4.523 votos. Foram 573 votos de diferença para o segundo colocado.

Em 1947 assume o cargo de presidente municipal do PSD em Florianópolis.

Depois de dez anos Santa Catarina, assim como todo o Brasil, tem a instalação da Assembleia Constituinte, ocorrida no dia 25 de março de 1947.

Como deputado constituinte, foi o responsável por adicionar a então Constituição do Estado de Santa Catarina, uma emenda que garantia aos professores, aposentadoria após 25 anos de serviço público. “Justifico a emenda senhor presidente, tendo em vista o insano trabalho de professor público, que devota as suas energias, a sua inteligência e a sua dedicação à grande causa do ensino. O professor não limita o seu trabalho unicamente às horas em que comparece à escola. Vai mais além. Entra pela noite, na tarefa de correção de temas. Executa tremendo trabalho prévio, na preparação e planejamento de suas aulas”.

Na segunda sessão legislativa, em 1948, concorre ao cargo de presidente, recebendo 10 votos, mas não obtendo o êxito esperado. Em 1949, presidiu a Comissão Permanente daquela Casa.

“Homem público de invulgar prestigio, o ilustre representante pessedista na Assembleia Legislativa do Estado e nobre Presidente da Comissão Permanente da mesma Assembleia, tem confirmado, em todos os postos que ocupa, as suas grandes qualidades de caráter e de espírito. Homem de partido, tem dedicado o melhor de suas atividades políticas ao PSD, em cujos quadros é dos mais dignos próceres”, destacava publicação do Jornal O Estado, em 9 de julho de 1949.

Na Assembleia Legislativo, se tornou um verdadeiro defensor dos interesses dos funcionários públicos, em especial dos policiais militares.

Na eleição de 1950, Pedro Lopes Vieira concorre a uma cadeira a Câmara dos Deputados, sendo o mais votado em Florianopolis, com 4.807 votos. Foram 1.103 votos a mais do que o segundo colocado. Em todo o Estado foram 7591 votos. Não foi eleito, ficando na condição de suplente.

Em 1951, deixa o PSD de Santa Catarina e ingressa no PSP, sendo eleito presidente regional desse partido.

É novamente eleito deputado estadual em Santa Catarina. 

Tenta retornar a chefia de Florianópolis nas eleições de 1954, porém não obtém êxito nas urnas, terminando na última colocação, tendo conquistado apenas 995 votos.

Faleceu no dia 30 de agosto de 1959, em Florianópolis/SC. Sepultado no Cemitério do Hospital de Caridade daquele município.

“Em todos os círculos sociais e culturais e em todas as camadas sociais, o Cel. Lopes Vieira conquistou amizades que o tinham na mais alta consideração. Com a morte de tão ilustre figura, perde Santa Catarina um dos mais devotados servidores do seu progresso, personalidade e projeção e de singular moral”, destacava nota do O Estado, em 1 de setembro de 1959.

Policia Militar prestou homenagem ao saudoso Coronel Lopes Vieira

Em sua capa, do dia 16 de janeiro de 1964, O Estado, mais antigo diário de Santa Catarina, trazia a noticia da homenagem que a Policia Militar prestava a seu antigo Comandante.

Com a presença do Governador Celso Ramos, do Comandante Antônio de Lara Ribas, de Secretários de Estado, do prefeito de Florianópolis Waldemar Vieira, a sede do 2º Batalhão, passou a ostentar o nome do “heroico militar, que durante anos comandou aquela tradicional Corporação”.

Em nome dos familiares do Coronel Pedro Lopes, usou a palavra o Dr. Deodoro Lopes Vieira: “Diante desta Solenidade, sinto-me realmente emocionado, e não acho expressões para traduzir com fidelidade todo o desvanecimento de minha família pela honra insigne que V. Exa., senhor Comandante, houve por bem conferir a meu saudoso pai, dando o seu nome a esta Batalhão, cumulando-se de gentilezas e conceitos que só posso atribuir ao seu trabalho aqui desenvolvido e amizade que teve a honra de inspirar-vos. 

Meu pai sempre foi um homem comum, um homem humilde, endurecido no combate cotidiano, procurou sempre manter diálogo com aqueles que precisavam de ajuda ou de uma palavra amiga, fonte constante de sua inspiração – e, a verdade é que os cargos por ele ocupados não o deslumbrava e suas ostentações, logo de o seduzirem, só lhe traziam humildade e resignação.

Esta homenagem, que muito sensibiliza a minha família, ultrapassa as nossas pessoas, para refletir-se naquilo que o destino quis que se encarnasse: - a obra justifica o homem”.

Seu filho Deodoro Lopes Vieira, registro do Jornal O Estado, 1964.

Seu nome também foi dado a uma Rua de Florianópolis. Em 23 de novembro de 1884, a Lei nº 6443 instituiu a Medalha “Coronel Lopes Vieira”, destinada a homenagear oficiais e praças da Polícia Militar, ou militares das Forças Amadas e militares estaduais de outras corporações, que se distinguem por ato ou trabalho excepcional, no exercício da profissão, em prol da corporação ou da coletividade.

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