Dizem que mesmo sendo pequeno e delicado, dentro de um cordel “cabe o mundo todo”. Pois, dentro da obra recém divulgada pela cordelista atalaiense Rosilda Ferreira, coube mais de três séculos de história, para homenagear o aniversário de 257 anos de fundação de Atalaia, comemorado na próxima segunda-feira, dia 1 de fevereiro.
A professora Rosilda é uma das grandes artistas da cidade, com seu cordel que encanta a todos que conhecem as suas obras. Na mais recente, com o tema ATALAIA, soube expressar em versos, estrofes e métrica, todo o amor por sua terra natal.
“É com muito carinho que apresento esse cordel com o tema ATALAIA e que possamos juntos reviver a nossa história, a nossa origem, porque temos uma história linda, de muita luta, muita garra e muita resistência”, destaca a cordelista.
Rosilda Ferreira reside no Distrito Santo Antônio. É professora da rede municipal e atualmente é gestora da Escola Municipal Francisco de Albuquerque Pontes.
Confira logo abaixo o cordel ATALAIA:
Entre rimas e versos
Nesse cordel quero homenagear
Minha querida Atalaia
Cidade melhor não há.
Sob sangue e lágrimas
Derramados incessantemente
Atalaia viu seu solo crescer
Progredindo abundantemente.
Os escravos não suportando
Tanta crueldade e dor
Organizaram fugas em massas
E no Quilombo se refugiou.
Assim começou a saga
Desse povo sofredor
Que lutou pela liberdade
Com resiliência e furor.
Para resolver a situação
Das fugas dos escravos
O Governador de Pernambuco
Contratou um capitão do mato.
Domingos Jorge Velho
Um sanguinário destemido
Que perseguiu e exterminou
Causando lamentos e gemidos.
Zumbi dos Palmares
Símbolo de resistência
Da luta não fugiu
Lutou com muita decência.
Travou uma enorme batalha
Numa guerra sem fim
Zumbi foi derrotado
E teve um triste fim.
Sua cabeça foi decapitada
Exposta em praça pública
Exibida como troféu
Da terrível e sangrenta luta.
Atalaia terra mãe
De Capela, Cajueiro e Viçosa
Pense num povo nobre
De pessoas esperançosas.
Minha gloriosa cidade
Seu aniversário é 1º de Fevereiro
Comemorado com procissão
Pastoril, Cavalhada e Guerreiro.
Preste atenção no que digo
A história você pode gravar
Atalaia tem vários nomes
Veja que espetacular!
Arraial dos Palmares
Vila Real de Bragança
Arraial de Nossa Senhora das Brotas
E Atalaia, que significa vigilância.
Nosso município é cortado
Pela BR-316
Vem conhecer a nossa história
De guerreiros, escravos e rei.
Reduto dos Palmarinos,
Assim como é chamada
A 48 quilômetros da capital
Ela fica localizada.
O clima de Atalaia
Veja que sensacional
É quente e úmido
É o clima tropical.
Nosso município é limite
Com Pilar, Rio Largo e Murici
Capela e Boca da Mata
Cuidado para não confundir.
Em seguida vem Pindoba
Maribondo vem também
Lembrar isso é preciso
E sempre nos convém.
O relevo de Atalaia
Coisa linda de se vê
Seu planalto é deslumbrante
É até difícil descrever.
Tem uma planície exuberante
Cortada pelo Rio Paraíba
O município é pontilhado
Por morros e serras bem esculpidas.
Esculpida pela mão de Deus
Numa delicadeza sem igual
Minha pequena Atalaia
És muito especial.
Decorada por muitas serras
Para você eu vou citar
Tem Dois Irmãos e Torjal
Entre Atalaia e Pilar.
Com 200 metros de altitude
Bem pertinho de Porangaba
Localiza-se a Serra Bolívia
Por Deus muito abençoada.
Fazendo a comparação
Entre Atalaia e Viçosa
É a serra Bananal
Separando também Pindoba.
Para vocês vou revelar
A Serra Cajazeira e Tauí
E não menos importante
A serra do Ouricuri.
Com 700 metros de altitude
O ponto culminante deste lugar
É a serra Nacea
Cheia de mistérios a decifrar.
A economia de Atalaia
Olha que interessante
O cultivo da cana de açúcar
É sempre predominante!
A culinária de Atalaia
Tem tapioca e angu
Tem inhame e carne de sol
Mas, o prato principal é o pitu.
Quem disse que Atalaia
Não tem o que se mostrar?
Temos artistas incríveis
De currículo exemplar.
Vandete Pacheco escritora
Mulher de muitos e belos feitos
Deixou a sua contribuição
E um legado de respeito!
Tio Tonho, famoso lambe-sola
Homem trabalhador
Cada verso recitado
Resplandecia seu valor.
Cláudio Cardoso fez historia
Foi um poeta encantador
Com suas rimas inspiradoras
Muitas vidas ele alegrou.
A bela Renata Miranda
Dona de um lindo sorriso
Com seus versos e rimas
Trouxe alivio aos cativos.
Aos cativos de coração
Seus livros trouxe liberdade
Pois, no mundo da poesia
Podemos viver imaginação ou realidade.
Atalaia pode ser considerada
Um celeiro de artistas
Até no Distrito Santo Antônio
Mora uma cordelista.
E no futebol por esse mundão
Um grande jogador se destacou
Aloísio Chulapa
Nossa cidade representou.
Borboletas sempre voltam
Assim cantava com esplendor
Júnior Rocha com essa canção
Aos atalaienses emocionou.
Quem visita Atalaia
Sempre quer retornar
E se conhecer a Santa Tereza
Aqui mesmo quer morar.
Atalaia, reduto dos Palmarinos
Cheias de memórias incríveis
Falar da nossa história
É reviver a nossa origem.
Minha querida Atalaia
Cheia de encantos mil
És bela, minha cidade
Pedaço do meu Brasil.
ROSILDA FERREIRA - UM POUCO DE MINHA HISTÓRIA
Eu sou Rosilda, estou com 43 anos. No ano de 1976, eu nasci. Moro até hoje no Povoado que vivi toda a minha “infância”.
Quando eu tinha 8 anos de idade, meu pai sofreu um grave acidente. Minha mãe precisou ficar com meu pai no hospital. Minha família era muito humilde, morávamos num pequeno casebre. Minha irmã mais velha não gostava da casa e foi morar com minha avó materna, deixando-me sozinha para cuidar dos meus outros cinco irmãos.
Passei a cuidar dos meus irmãos e assim, tive que ser privada de minha infância, pois precisei ter responsabilidades de adulto.
Não foi fácil, mas consegui!
Aos 11 anos de idade, precisei costurar um sapato para ir estudar. E isso tornou-se um trauma na minha vida. Fui uma pessoa que muitos anos vivi aprisionada a sombra desse passado.
Aos 14 anos de idade, consegui meu primeiro emprego em uma fazenda chamada Espírito Santo, lecionava em uma turma de multisseriados.
Quando consegui minha independência financeira, cheguei a possuir100 pares de sapatos.
Um dia, estando eu em oração, Deus me fez compreender que eu não precisava “ter medo” e que não mais necessitava de tantos pares de sapatos. Nesse exato momento me libertei daquilo que me aprisionava ao passado e fiz uma doação de metade dos meus sapatos.
Em 1996, casei com Sérgio Félix, em 1997, nasceu nosso primeiro filho, Sávio. Em 2008, fui mãe de uma menina: Sabrina, minha princesinha.
Em 2010, passei a exercer o cargo de Coordenadora Pedagógica na Escola Municipal Francisco de Albuquerque Pontes.
Meu primeiro Cordel, surgiu com a doença de meu pai. Depois escrevi outros, mas só em 2009, meus Cordéis começaram a ser divulgados.
Em 2019, meus Cordéis passaram a ser reconhecidos e divulgados no Município de Atalaia.
Hoje, sou uma pessoa realizada, feliz e grata a Deus por tudo que Ele me proporcionou e me proporciona em todas as áreas da minha vida.
Não sou rica, mas tenho um tesouro maior que esse “A Paz de espírito. ” Apesar das circunstâncias, nunca fiz nada ilegal para alcançar meus objetivos.
Sinto orgulho dos meus pais e do que me tornei, graças primeiramente a Deus e a eles.
Enfim, através da poesia eu consigo externar minhas conquistas, angústias, alegrias, amor.
Isso me deixa realizada. E tudo que vivi foi fundamental para que eu me tornasse um ser humano melhor.
De vez em quando, olho para trás, não para relembrar o que vivi, mas para nunca esquecer de onde eu vim e para nunca deixar a arrogância, nem a soberba fazer parte de mim.