Para marcar o Dia Mundial da Poesia, dia 21 de março, o site Atalaia Pop reúne oito poemas do professor Genário Cardoso de Farias, grande educador, que também foi vereador e ex-prefeito do município nas décadas de 40-50.
Sua obra literária, carregada de religiosidade e romantismo, ou até mesmo destacando um grande acontecimento daquela época, evidencia o tamanho do conhecimento da língua portuguesa do Professor Genário, um dos filhos mais ilustres de Atalaia.
Foi proprietário do colégio “Ateneu Atalaiense”, fundado por ele em 1950, localizado na Rua Floriano Peixoto, onde estudaram gerações de alunos não só de Atalaia, mas também de Capela e Viçosa, inclusive no regime de internato. Gostava de escrever poemas e ensinar as pessoas a ler e escrever.
Professor Genário era um mestre, um homem culto, de educação finíssima, sendo descrito pelo advogado Getúlio Pereira Leite como um “espadachim da língua portuguesa”, ou seja, nas suas lutas, nos seus embates políticos, não havia espaço para a força, mas sim para o seu grande poder de oratória e convencimento.
Infelizmente, partiu muito cedo, com apenas 49 anos de idade. Muito ainda teria contribuído para Atalaia, seja na política, seja na literatura, ou apenas como um atalaiense que era apaixonado por esta terra.
Existem muitos outros poemas do Professor Genário que ainda continuam inéditos, mas que em breve certamente serão divulgados para referenciar mais uma vez a sua importante obra literária, seu presente para a eternidade.
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GOGÓ DA EMA
Ao Jucá
“Li e reli o teu GOGÓ DA EMA
Muito gostei! E sem bajulação
Eu te afirmo Jucá, de coração,
Se o título agradou, melhor o tema!
Tortuoso GOGÓ, dádiva suprema,
Revestisse o Jucá de inspiração
E ele, com a maior dedicação,
Transformou PONTA VERDE em um poema...
Canta poeta – a tua lira é moça!
Não falta quem te aclame e quem te ouça...
A mocidade é pródiga de encantos!
Canta também pela tristeza alheia...
Porque, ao resplendor da lua cheia,
GOGÓ DA EMA exaltará seus cantos!
Genário Cardoso de Farias – Atalaia – Alagoas
A CRUZ DO TERÇO DELA
Defronte a sua casa, a conversar
Pedi me desse uma lembrança sua
E contemplando a face branca e nua
Do Céu, ela me disse eu vou buscar.
E foi, a passo e passo, devagar,
Toda medrosa, e atravessou a rua
E eu fiquei sozinho a contemplar
O seu perfil de santa, à luz da lua.
Voltou. E ao chegar disse baixinho:
- Toma, é seu, guarde com carinho,
É tudo quanto o nosso amor revela.
Recebi e guardei dentro da mão,
Num gesto de mais pura devoção,
Pensando em Deus – a cruz do terço dela.
Genário Cardoso de Farias – Atalaia – Alagoas
A VIDA SEM TEU AMOR
É UM MARTÍRIO TERRÍVEL...
HAVENDO PERSEVERABÇA
TUDO NO MUNDO É POSSÍVEL...
És tu sincera criatura
A Deusa do meu encanto,
Embora vivas em pranto
Neta vida de tortura...
Pois, a tua imagem pura
Tem a pureza da flor,
Pelo teu casto primor
Ornado de gentileza
Para mim não tem beleza
“A VIDA SEM TEU AMOR”
És linda como açucena
No desabrochar d’aurora
Meu peito soluça e chora
Por ti, oh virgem serena...
Porém o destino ordena...
Com a sua força excessível
Que não acha admissível
Eu viver sem ti Lily
Por que a vida ausente de ti
É UM MARTÍRIO TERRÍVEL
Esperai anjo querido!
Que um dia há de chegar
A hora de eu te pagar
O teu amor precarido...
Se por Deus for permitido
- Quem espera sempre alcança.
Nos braços da esperança
Onde está nosso futuro,
Nosso amor será perduro
“HAVENDO PERSEVERANÇA”
Confia no Supremo
Vive sempre sossegado
Trazendo sempre guardado
O triunfo do extremo...
Contra a sorte eu não blasfemo
Por ser um ato impossível
Adorar-te assim ausente,
Porque a vida não mente
“TUDO NO MUNDO É POSSÍVEL”
Genário Cardoso de Farias
Atalaia – Alagoas – 24/04/1927
14 DE OUTUBRO
“Eis a data sublime em que eu nasci,
Que nos anais da vida registrei!
Uma data que sempre exaltarei
Pelas horas felizes que vivi...
Não sei se mais gozei, se mais sofri,
Não sei se mais sofri, se mais gozei!
Ou sofrendo ou gozando, eu só bem sei
De haver nascido não me arrependi
Quadragésima sexta primavera,
Tão pobre e desprovida de quimera,
Que me faz pressentir grande desgosto!
Mais um ano de vida vou vivendo
Embora pouco a pouco envelhecendo,
E as brancas rugas me franzindo o rosto!
Atalaia, 14 de outubro de 1952.
Genário Cardoso de Farias
GRATIDÃO
Deste-me em noite aquela, a cruz divida e santa
Do teu divino terço, ó filha de Maria!
Como viva expressão do amor que nos encanta
As medrosas paixões de sua profecia!
Não pude agradecer aquela sacrossanta
Revelação de amor, a mim, naquele dia...
O que tinha a dizer morreu-me na garganta
Em êxtases febris de suprema alegria.
Com a alma a transbordar num mar de encantamento,
Eu fiz, olhando os céus, um santo juramento
Nunca mais esquecer a tua linda cruz...
E para comprovar-lhe a minha gratidão,
Procurei transformar meu pobre coração
Num sacrário de amor e em suas mãos depus.
Genário Cardoso de Farias
Atalaia – Alagoas
SER FREIRA
Ser freira é viver livre do pecado
Que nos arrasta a todo sofrimento,
Rezando a vida inteira num convento
Com um rosário na mão, dependurado;
Ser freira é ter Jesus sempre guardado
Em si – em Pão, em Vinho, em pensamento...
E debaixo de um santo juramento
Esquecer este mundo desgraçado!
Ser freira é ser do céu, sendo da Terra;
É ser santificada, sendo humana,
E a tudo que é divino fazer jus.
E os bens que coração de freira encerra
São bens que só a lei de Deus dimana;
Ser freira é ser escreva de Jesus.
Genário Cardoso de Farias
Atalaia – AL, 1950.
SER PADRE
Ser padre é ser ministro do Senhor,
Nosso Pai, que sofreu cruéis horrores
Para salvar os homens, pecadores,
Das provações aspérrimas da dor...
Ser padre é ser de Pedro sucessor
Para cantar da Igreja os seus primores
E defender dos tristes dissabores
As ovelhas do Pai como Pastor.
E quando as línguas más, desenfreadas,
Aos ministros de Deus jogam piadas...
Eu fico revoltado, eu me contristo
Porque vejo num padre um penitente
Que sofre e que padece pela gente
Para cumprir as leis de Jesus Cristo!
Genário Cardoso de Farias
Atalaia, Al, 1950.
GETÚLIO MORREU!
Às classes operárias brasileiras.
Morreu Getúlio Vargas – a Bandeira
Que muito tremulou por nossa gente,
À frente do Catete, e Presidente
Dos destinos da Pátria Brasileira!
Que miséria! Foi grande a bandalheira
Que levou a Nação a tão premente
Estado de revolta intransigente
Que podemos dizer – foi a primeira
Resolução com que um brasileiro,
Da estirpe de Getúlio, um verdadeiro
Democrata, sincero e varonil
Num gesto de repulsa à ingratidão...
Decidiu atirar no coração
Para não ver a desgraça do Brasil.
Genário Cardoso de Farias
Atalaia, AL, 24 de agosto de 1954.
COQUEIRO SECO
Ao Manoel Cícero do Nascimento, dileto filho daquele recanto praiano.
Numa tarde sublime e esplenderosa
Em que se festeja a Padroeira...
Fui a Coqueiro Seco, na carreira,
Fazer-lhe uma visita curiosa...
Gostei muito de tudo, até da prosa
Daquela gente boa, hospitaleira
E naquela lagoa feiticeira
Mergulhei a minh’alma prazeirosa.
E por margem afora caminhando,
Como que se estivesse procurando
Alguma Ninfa por ali, atoa...
Surpresa... Volto e dirijo-me ao TEMPLO
E da mais alta janela contemplo
Dois corações boiando na lagoa!
Genário Cardoso de Farias
Atalaia, AL, Janeiro de 1953