Em 3 de fevereiro de 1918, nascia no Engenho Timbó, em Atalaia, Georgette Silva de Oliveira Mendonça, filha de Meroveu Cunha de Oliveira Mendonça e Maria Georgina Silva de Oliveira Mendonça. Jurista conceituado no Estado, seu pai foi Procurador Geral de Justiça, presidente do TRE e desembargador do TJAL. Sua mãe foi uma eximia professora de francês, também nascida no município de Atalaia.
Nasceu em propriedade do seu avô materno, o Coronel Manoel Thomaz da Silva, que foi político no município de Atalaia, fazendo parte do primeiro Conselho Municipal de Atalaia e sendo um dos responsáveis pelo convite ao então governador de Alagoas, Dr. Manoel de Araújo Góes, que resultou na inauguração da linha férrea e na elevação da então Vila de Atalaia a categoria de cidade, em 5 de março de 1891. Também foi senador estadual
Em seu livro Os Mendonças do Pilar, Georgette traz algumas lembranças de sua infância. “Foi no Timbó que eu nasci. A casa grande era clara e simpática. Tão próxima a linha férrea que dava para identificar os passageiros do trem”.
Também relata no citado livro, o que o renomado jornalista e político pilarense Pedro da Costa Rego, pensava sobre o fato dela ter nascido em Atalaia. “Pedro eu conheci em 1925. Nas residências de Quintela Cavalcante e do meu tio José Paulino de Albuquerque Sarmento. Creio que não gostava de crianças. Por duas vezes me dirigiu a palavra e me senti humilhada. Como se me coubesse a culpa de não haver nascido no Pilar. E sim no engenho Timbó, de propriedade do meu avô, situado no município de Atalaia. Dizia ele em alto e bom som que Atalaia era uma terra tão atrasada que até o trem andava para trás”.
Descende, em linha direta, do Barão de Mundaú, o senhor José Antônio Mendonça, pertencendo assim a tradicional aristocracia rural nordestina.
Seu pai Meroveu Cunha de Oliveira Mendonça e sua mãe Maria Georgina Silva de Oliveira Mendonça.
Iniciou curso primário no Grupo Escolar Torquato Cabral, na cidade de Capela, dirigido na época pelo juiz de direito José Jerônimo de Albuquerque. Concluindo, em 1927, no Grupo Escolar Diegues Júnior, em Maceió, dirigido por Craveiro Costa.
Em Garanhus, Pernambuco, faz o curso Comercial no Colégio Santa Sofia e a terceira série ginasial.
Retornando a Maceió, conclui o ginásio no Liceu Alagoano. Curso Normal no Instituto de Educação de Alagoas, colando grau como professora primária em 1938. Fez o cientifico no Colégio Guido de Fontgalland.
Em seu estado natal, bacharelou-se em Direito, pela Faculdade de Direito de Alagoas, no ano de 1945, tendo obtido nota máxima em todas as disciplinas do curso, o que lhe valeu o prêmio Clóvis Beviláquia, outorgado pelo Ministério da Educação e Cultura.
Georgette Mendonça é a primeira da esquerda para a direita.
Seu ingresso no serviço público estadual ocorreu com apenas 14 anos de idade. No serviço público federal aos 18 anos de idade, através de concurso. Técnica da Previdência, em 1970 foi nomeada Procuradora do INPS, cargo em que exerceu com zelo e competência, até se aposentar.
É parente do embaixador e escritor Renato Mendonça e do poeta e fundador da Academia Alagoana de Letras, Fernando Mendonça, o que pode ter contribuído para tamanho talento literário que possuía desde a infância, pois chegou a escrever ainda criança para a revista O Tico-Tico, do Rio de Janeiro. Sua mãe também gostava de escrever crônicas e contos.
Colaborou ainda em O Núcleo Progressivo, jornal mimeografado da Escola Santa Sofia. Depois de atingir a maioridade, publica trabalhos no Correio da Manhã, na revista O Malho, do Rio de Janeiro, no Jornal do Comércio de Recife, no Jornal de Alagoas e na Gazeta de Alagoas.
Advogada, escritora e poetisa, Georgette Mendonça é autora de mais de quarenta livros, foi membro atuante do Grupo Literário Alagoano e da União Brasileira de Escritores (SP), sendo também fundadora do Núcleo Alagoano da Academia de Letras e Artes do Nordeste. Porém, de forma inexplicável e injusta, nunca foi convidada para integrar a Academia Alagoana de Letras.
Georgette Mendonça foi membro atuante do Grupo Literário Alagoano.
Estreou em livros no ano de 1948, com o Eu Quero Duas Almas, coletânea de poemas que tão bem evidencia o sentimento lírico predominante na poética da jovem atalaiense, de apenas 30 anos de idade.
Dez anos mais tarde publica, em 1958, o livro Seis Semanas na Europa e, em 1978, Retalhos, também de poesia.
Em 1980 lança o livro Eunice Lavenére e seu Cantar, obra de caráter biográfico que obteve o prêmio “Othon Bezerra de Melo”, da Academia Alagoana de Letras.
Com seu poema “Lição de Astronomia”, participou da Coletânea formada por 14 Poetas Alagoanos, de Waldemar Cavalcanti, p. 20.
LIÇÃO DE ASTRONOMIA
Não importa que os caminhos
por onde trilho
sejam sáfaros, estéreis, desertos.
Não importa haja espinhos
ofuscando o brilho
dos atalhos recém-abertos.
Nada importa. Nada importa
se tu me ensinas o nome das estrelas.
De todas as estrelas.
Inclusive daquela que é morta
há milênios.
Grande Ursa. Ursa Menor.
Polar. Cisne. Delfim...
(Deita a cabeça no meu ombro. Assim.
Vês o losango das Plêiades, amor?)
Agora, Orion – As Três Marias...
Uma estrela cadente
desaba do céu de repente.
(Depressa, meu amor, um desejo...)
E o doce rumor do meu beijo
morreu em tua boca ardente.
Bem sei que foi um desatino
Mas para que esperar profecias
se não acreditamos nelas?
E que importa o destino do meu Destino
se tu me ensinas o nome das estrelas?
É uma das alagoanas citadas no Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras (1711-2001), de Nely Coelho.
No ano de 1988, sob o título genérico de “Andança pelo Mundo”, publica dezenove livros em que reuniu as impressões que teve das numerosas viagens realizadas, em diferentes ocasiões, a países da América, Europa, África e Ásia.
“Durante sua profícua existência conheceu in loco o Velho Continente, precisamente a Cidade Luz (Paris), mais de quarenta países foram visitados pela involvidável escritora. Tive a honra de privar de sua fidalga companhia. Inclusive, em sua residência no Parque Gonçalves Ledo, conversávamos em torno de cultura, seu tour europeu que lhe rendeu escrever mais de quarenta livros”, destaca o jornalista Laurentino Veiga, em artigo para o site Tribuna do Sertão, de 14 de abril de 2018.
Já em artigo publicado no jornal expresso Tribuna Independente, de 21 de setembro de 2017, o jornalista Laurentino Veiga comenta que a escritora é reconhecida internacionalmente. “Georgette Mendonça, sem favor nenhum, foi uma escritora conhecida internacionalmente. Conhecia de perto, mantive uma amizade sincera com sua fidalga pessoa. Destacou-se com seus livros históricos e principalmente, literário, que ainda hoje servem de pesquisas às novas gerações. A autora de “Eu quero duas Almas”, “Seis semanas na Europa”, “Alemanha sem Primavera”, “Viagem à África”, “Rumo ao Sol”, encantou a todos pela densidade cultural. “Não passou por brancas nuvens em plácido repouso adormeceu”, pelo contrário, deixou marcas indelegáveis que a poeira do tempo não conseguirá apagar”.
Em nota prefaciada pela Editora Comunicarte, destaca o grande poder de observação da autora nas informações que utiliza nos seus registros de viagens. “A tudo, porém, acrescenta Georgette Mendonça o sopro lírico de sua delicada sensibilidade feminina e o sentimento poético a que sempre foi fiel, ao longo da vida. Este sentimento é uma presença permanente em seu invejável domínio da arte de viajar – arte praticada com inteligência, emoção e curiosidade, mercê da qual procura ver tudo e, principalmente, ver melhor do que os outros, os que estes nem sempre se interessam em ver: a alma dos lugares que visita”.
No começo da década de 90, ingressa no gênero literário da ficção, com seu livro Fugas, reafirmando de forma brilhante sua capacidade intelectual e seu espírito de criatividade.
Georgette Mendonça procurava transmitir em suas poesias, crônicas, ensaios, contos e novelas, sempre seu estilo próprio. “Estilo próprio, poético, escorreito, demonstrando aguda percepção do que lhe é dado observar e analisar. Uma mulher distinta, um caráter nobre. Uma senhora escritora”, destaca Laurentino.
Com sua obra “Os Mendonças de Pilar”, a escritora atalaiense apresenta um trabalho literário-histórico, mas que afirmava se tratar mais de um roteiro sentimental. “Remoendo lembranças agradabilíssimas, a literária mistura literatura com as emoções de seu tempo. E o faz desprovida de vaidade pessoal, mostrando a história dos seus ancestrais e, principalmente, a trajetória do Barão de Mundaú”, destaca Laurentino Veiga, em seu artigo para o jornal Tribuna Indepenente.
Aos 85 anos de idade, faleceu em agosto de 2003, na cidade de Maceió.
A escritora atalaiense não constituiu família, não teve descendente. “Não sabemos por que Georgette, a bela mulher de olhos água marinha e pele de âmbar, quis manter-se sozinha. Temos a impressão que , na continuidade das fugas que marcaram sua vida, ela sempre fugiu também a qualquer espécie de domínio, masculino, feminino, de quem quer que seja. Solitária em suas viagens, em seu trabalho, em sua residência, ela soube construir ao redor de sua vida particular uma espécie de muralha convencional, sempre respeitada pelos amigos, qual verdadeira muralha de pedras ou de guardas presidenciais”, nos revela Ilza Porto, membro da Academia Alagoana de Letras, em trecho que consta no livro RIO-MAR, da escritora Georgette Mendonça.
“Inteligência fina e perspicaz, fria observadora, apresentando essa mistura quase impossível de lucidez e paixão, Georgette, através do largo tempo em que sempre viajou, foi juntando, qual abelhinha inquieta num estendal de flores, o mel de suas anotações em mais de vinte livros, sempre com a mesma linguagem objetiva impregnada de poesia que tanto nos fascina”, pontua Ilza Porto.
“Guiada pelo olhar perspicaz e a inteligência arguta, Georgette registrou, com infatigável empenho, as impressões causadas por paisagens desconhecidas, costumes e tradições de vários povos, episódios históricos internacionais de relevante interesse, peculiaridades das organizações sociais”, destacou Solange Chalita em publicação no Jornal de Alagoas, em 1988.
Georgette em Zurique, Suiça.
Revista O Malho, edição de 1939.
MINHAS CARTAS DE AMOR ERRARAM SEU DESTINO
Minha alma milenária
viveu em muitas eras.
Foi Safo. . . e escreveu quimeras
quando era ainda um sonho marmóreo
o Pantenor multicor.
Depois, quando entrou em decadência
a Grécia legendária,
(mil dracmas um beijo de Laís
e o velho Sócrates não quis!)
mudou-se para o Egito
e foi Cleopatra. Suas galeras
subiram, iluminadas,
o grande rio tranquilo !
Foram tantas as cartas endereçadas
a Cesar e a Marco Antônio
que ficaram desertas de papiro
as margens do Nilo!
Foi Marceline Desbore-Valmore
enchendo de lirismo e de beleza
as praias de Martinica e os campos de França!
Escrevendo com certeza
cartas ingênuas de criança
e doces cartas de adolescente ...
Minha alma toda meiguice e ternura
foi muitas mulheres belas
e redigiu com elas
poemas de amor e desventura.
Depois, então,
vieram as cartas ardentes,
vibrantes, frementes,
apaixonadas e loucas,
cantando, em seu canto tumultuário,
a epopeia de duas bocas
e a tragédia de um coração !
Mas. . . foi um homem mercenário
(como todos os homens que conheço agora),
quem recebeu todas as cartas de amor
que minha alma escreveu outrora!
Não sei mesmo porque estranho desatino
minhas cartas de amor erraram sempre o seu destino !
Confira algumas de suas obras:
Eu Quero Duas Almas, Maceió: [s.ed.] menção honrosa da AAL, 1948 (poesia);
Retalhos, Maceió: DAC/SENNEC, 1978 (poesia);
Três Contos Premiados: Velho Costume, Eu Encontrei Maria (prêmio Carlos Paurílio, 1979) e Duas Cartas Para Adelaide (prêmio Carlos Paurílio, 1978), Maceió: [s.n.];
Entre o Marrocos a Irlanda, Recife: Comunicarte, 1971;
Terra do Fogo, 1972;
Paisagens do Outono, 1974;
Dos Passos de Drácula aos Palácios dos Faraós, Andanças Pelo Mundo, ilustrações de Lenora, Recife: Editora Comunicarte, 1988;
Mares do Sul e Terras da China, Andanças Pelo Mundo, ilustrações de Lenora, Recife: Editora Comunicarte, 1988;
Oito Dias na República Argentina, 1951;
Seis Semanas na Europa, Maceió: Casa Ramalho, 1956 (impressões de viagem) Bilhete na Europa, 1961;
Cartões Postais do Continente, 1962;
Do Atlântico ao Mar Negro, ilustrações de Lenora, Recife: Comunicarte, 1989; Paisagens do Outono, 1974;
Atravessando os Andes, 1977; Retalhos I, Maceió: SERGASA;
Sol e Neve, ilustrações de Lenora, Recife: Comunicarte, 1988;
Cultura e Arte na França e na Bélgica, Recife: Comunicarte, 1988;
Os Andes & a Terra do Fogo, ilustrações de Lenora, Recife: Comunicarte, 1988;
Encontros Com Pessoas, Com Lugares, Com Idéias, Recife: Comunicarte, 1992;
Velho Mundo Sempre Novo, ilustrações de Lenora, Recife: Comunicarte, 1988;
Brasil, meu Brasil Brasileiro, ilustrações de Lenora, Recife: Comunicarte, 1989;
Imagens do Brasil. Visão Incompleta das Coisas Belas do Interior Brasileiro, Recife: Comunicarte, 1998;
Postais e Lendas do Gales ao Algarve, Recife: Comunicarte, 1989;
Mares do Sul e Terras da China, ilustrações de Lenora, Recife, 1988;
No Avesso da Cortina. Andanças Pelo Mundo, Recife: Ed. Comunicarte, 1988, ilustrações de Lenora;
Alemanhas em Primavera. Andanças Pelo Mundo, Recife: Ed. Comunicarte, 1988, ilustrações de Lenora;
Viagem à África, Andanças Pelo Mundo, ilustrações de Lenora, Recife: Ed. Comunicarte, 1988;
Em Terras do Velho Mundo, Andanças Pelo Mundo, ilustrações de Lenora, Recife: Ed. Comunicarte, 1988;
Ronda Europeia. Andanças Pelo Mundo, ilustrações de Lenora, Recife: Ed. Comunicarte, 1988;
E a Neve Caiu. Andanças Pelo Mundo, ilustrações de Lenora, Recife: Ed. Comunicarte, 1988;
O Mundo Do Lado de Lá. Andanças Pelo Mundo, ilustrações de Lenora, Recife: Ed. Comunicarte, 1988;
Terra Santa Nova Canaã, ilustrações de Lenora, Recife: Comunicarte, 1988;
Nas Fronteiras da Fantasia. Andanças Pelo Mundo, ilustrações de Lenora, Recife: Ed. Comunicarte, 1988;
Eunice Lavenère e seu Cantar, prefácio de Félix Lima Júnior, capa de Júlio Gonçalves, CEPE, Recife, 1980, prêmio Othon Bezerra de Melo/AAL, 1979 (ensaio biográfico);
Da Europa e das Três Américas, ilustrações de Lenora, Recife: Editora Comunicarte, 1989;
Rio-Mar Poesia, capa de Pierre Chalita, [ed. autor], Recife, 1991;
Os Mendonça do Pilar, Recife. Ed. do autor, 1994;
Mendonça Júnior: O Cantor do Vale de Camaragibe, Recife: Ed. Comunicarte, 1996;
Ao Encontro da Primavera, 1997;
Entre o Marrocos e a Irlanda, ilustrações de Lenora, Recife: Ed. Comunicarte, 1988; Suíça. País de Fadas Madrinhas, Recife: Comunicarte, 1997;
Três Viagens a Brasília, Maceió: [ed. autor], 1998; Era Setembro..., Recife: Editora Comunicarte, 1998;
Liberdade de Cura, capa de Bérgamo, Recife, [ed. autor] 1998;
Turismo: Acidentes e Incidentes Inusitados, 1º volume e 2º volume, Recife: Ed. Comunigraf, 1999;
Metz: Quinze Séculos de Contemplação, Recife: [ed. do Autor], 1999;
Duas Vidas, Maceió: [ed. autor] 2000;
A Luta é Meu Elemento, Maceió: [ed. autor], 2001.
Fontes: Site ABC das Alagoas; Jornalista Laurentino Veiga, em artigo para o site Tribuna do Sertão, de 14 de abril de 2018; Jornalista Laurentino Veiga em artigo publicado no jornal expresso Tribuna Independente, de 21 de setembro de 2017; Os Mendonça do Pilar, Georgette Mendonça, Recife. Ed. do autor, 1994; Agradecimentos, Georgette Mendondça, Maceió. Ed. do autor, 2002;ABC das Alagoas : dicionário biobibliográfico, histórico e geográfico de Alagoas, Barros, Francisco Reinaldo Amorim de, Brasília. Ed. Senado federal, 2005.