Sou uma pessoa comum. E você?
Fui criado com princípios morais comuns.
Quando criança, ladrões tinham a aparência de ladrões e nossa única preocupação em relação à segurança era o flagrante do lanterninha dos cinemas!
Mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades presumidas dignas de respeito e consideração.
Quanto mais próximo, e/ou mais velhos, mais afeto.
Inimaginável responder deseducadamente a mestres, idosos, autoridades.
Confiávamos nos adultos porque todos eram pais de todas as crianças da rua!
Tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror.
Hoje, sinto uma tristeza infinita por tudo que perdemos.
Por tudo o que meus netos precisam temer.
Matar pais, avós, violentar crianças, sequestrar jovens, roubar, enganar, passar a perna, tudo virou banalidade no noticiário policial.
Não levar vantagem é ser otário!
Pagar dívidas em dia é bancar o bobo, anistia para os caloteiros de plantão.
Ladrões de terno e gravata, assassinos com cara de anjo, pedófilos de cabelos brancos.
O que aconteceu conosco?
Professores agredidos em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas portas e janelas.
Crianças morrendo de fome, gente com fome de morte.
Que valores são esses? Carros que valem mais que abraços, filhos que pedem brindes por passar de ano.
Mais vale vinténs do que um gosto?
Que lares são esses?
Bom dia, boa noite, até mais. Jovens ausentes, pais ausentes, droga presente e o presente uma droga.
Quando foi que fechei a janela do meu carro? Quando foi que me fechei?
Quero de volta a minha dignidade, a minha paz e o lugar onde o bem e o mal são contrários, onde o mocinho luta com o bandido e o único medo é de quem rouba e mata.
Quero de volta a lei e a ordem.
Quero liberdade com segurança. quero tirar as grades da minha janela.
Quero a honestidade como motivo de orgulho.
Quero a retidão de caráter. A cara limpa e o olho no olho.
Quero empregos decentes, salários condizentes, uma oportunidade a mais.
Uma casa para todos, comida na mesa, saúde a mil.
Quero livros, sapatos e água limpa.
Eu quero voltar a ser feliz!
Quero xingar quem joga lixo na rua, quem fura a fila, quem ultrapassa a faixa, quem não usa cinto, quem não paga a conta, quem não dignifica meu voto e cobra mensalão.
Abaixo o "ter", viva o "ser" e o "sentir"!
E viva o retorno da verdadeira vida, simples como uma gota de chuva, limpa como um céu de abril, leve como a brisa da manhã.
(*) Professor doutor, aposentado da Universidade Federal de Alagoas - UFAL.