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Artigo I Emílio de Maya. Por: Breno Accioly

Artigo publicado em 1948 por *Breno Accioly no jornal Letras e Artes, do Rio de Janeiro.

Phablo Monteiro
Por: Phablo Monteiro
25/06/2021 às 09h22 Atualizada em 04/07/2021 às 15h00
Artigo I Emílio de Maya. Por: Breno Accioly
Dr. Emílio Eliseu de Maya.

Se Emílio de Maya não houvesse desaparecido tão prematuramente, estaria agora a se rejubilar consigo mesmo ante as acertadas considerações por ele expostas em seu primeiro e único livro: “O Brasil e o Drama do Petróleo”. Pois aquelas duas análises acerca da nossa libertação econômica terminaram por ser endossadas, faz algum tempo, por um grupo de homens que desejam o soerguimento do nosso crédito. Herdando do pai – Alfredo de Maya – o autodomínio necessário às lides políticas, Emílio de Maya é uma norma para o pequeno Estado de Alagoas, exaltado na personalidade férrea de um Floriano Peixoto e obumbrado na do desgraçado Calabar. Honra no que diz respeito ao escritor, honra no que diz respeito ao político. Pois a política desse jovem estudioso que jamais se contentou com o lastro da erudição, sim com o da cultura, foi deveras construtiva, democraticamente simpática. Antes de ser eleito deputado federal – ainda não completara 24 anos -, o economista de “O Brasil e o Drama do Petróleo” foi o precursor do Estado de Tavares Bastos do contato direto com o eleitor; e o homem de alpercatas do sertão que jamais escutava a voz de um candidato a um mandato político, ao escutar as perguntas do recém-formado bacharel em Direito (perguntas simples como simples eram e continuam a ser o “querer” do sertanejo), não vacilou em sufragar a chapa do jovem político que venceu sem malabarismos de um Maquiavel nem atraiçoamento de um Brutus. E ao exercer o mandato de deputado federal, Emílio de Maya não se refestelou às poltronas da Câmara, tão pouco quedou-se no silêncio bem-aventurado dos pobres de espírito. Foi o trabalhador da bancada alagoana, o único a apresentar projetos que (durante o quatriênio) terminaram sancionados em leis. Seis úteis leis que estavam sendo aguardadas, havia bastante tempo, em favor dos desamparados da caatinga.

Emílio de Maya é um exemplo para os “debutantes” da política. As suas atividades parlamentares ainda são relembradas com orgulho por todos aqueles que tiveram a oportunidade de ouvir o jovem prócer alagoano defender a existência do petróleo no solo brasileiro, quando técnicos rotulados de magistrados do assunto tentavam, por meios escusos e mentirosos, negar a presença do ouro negro às entranhas dessa terra que “em se plantando nela tudo dá”. E, insatisfeito, Emílio de Maya, precisamente há dez anos, lançou por escrito o seu repto de honra em favor da defesa do nosso petróleo, antecipando, desse modo, a campanha que se processa, encabeçada por um grupo de esclarecidos, de deixar para o Brasil aquilo que ao Brasil pertence.

A singularidade de Emílio de Maya (além de ser um precursor de atitudes) consiste na rebeldia orgânica, pacata, de operar resoluções sem derramamento de sangue e em acompanhar a marcha do progresso sem renegar a liberdade do homem – condição essencial para a vida de qualquer homem de qualquer raça. Sabemos que em Santana do Ipanema (cidade do alto sertão de Alagoas, onde nascemos), Emílio de Maya jamais será esquecido. Existe uma praça com o seu nome. E por que não dar o nome de Emílio de Maya a Riacho Doce, se foi ele quem defendeu esse pedaço de terra, estimulou a sua perfuração, quando o descrédito era o coro das vozes derrotistas? Há muito não retornamos a Alagoas. Mas se isso fizermos, algum dia, não nos esqueceremos de subir as escadarias do Palácio dos Martírios e, à autoridade competente, externarmos, mais uma vez, o que acabamos de achar justo e inadiável. Pois se tantos desconhecidos apavonados merecem a atenção de uma placa de rua, por que não homenagear condignamente um homem que sempre volveu o seu espírito às causas nacionais, dignas de atenção e apoio? Mesmo que não transmudem oficialmente o nome de Riacho Doce para Emílio de Maya, nós não nos assustaremos. Porque assustados ficaríamos de o que é de César a César fosse dado diariamente. Dão a César, sim, o que não é dele.

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* Breno Accioly nasceu em Santana do Ipanema, em 1921 e morreu em 1966. Considerado pelos grandes críticos um dos maiores escritores brasileiros e o melhor contista de Alagoas. Texto publicado em 1948.

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