O ex-senador, ex-deputado federal por Alagoas e empresário João Lyra, de 90 anos, morreu nesta quinta-feira (12). Ele estava há semanas internado na UTI de um hospital particular em Maceió por causa de uma broncoaspiração, que acontece quando o alimento entra pelas vias aéreas. A informação foi confirmada ao G1 pelo hospital onde ele estava internado.
Em junho deste ano, João Lyra teve pneumonia, passou por uma cirurgia de apêndice e pegou Covid-19. De acordo com a família, após se recuperar da infecção pelo coronavírus, ele precisou ser internado novamente com problemas respiratórios.
Usineiro foi o que mais empregou em Alagoas. O grupo João Lyra empregou 17 mil pessoas no estado de Alagoas e um total de 26 mil, somando seus empregados em Minas Gerais.
Conhecido não apenas no estado de Alagoas, mas em todo o país, o Dr. João – como é conhecido – foi protagonista de uma das maiores histórias do setor sucroenergético, tendo sido o fundador do Grupo João Lyra. Além disso, ele foi considerado o parlamentar mais rico do país, ao cumprir dois mandatos como deputado federal.
João José Pereira de Lyra nasceu em Recife no ano de 1931, e atualmente tem 90 anos. Bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito de Alagoas na década de 60. Empresário do setor sucroalcooleiro, com a fundação do Grupo João Lyra, ele presidiu a Laginha Agroindústria S.A., a matriz Usina Laginha, em União dos Palmares (AL) a partir de 1951, a qual foi durante muitos anos uma das principais fontes de renda de municípios como União dos Palmares, Branquinha e Murici.
No entanto, em 2010, o episódio da enchente que assolou a cidade de União dos Palmares, afetou também a Usina Laginha. Nas imagens dos noticiários, foi possível ver tanques de álcool, que pesavam mais de 180 toneladas, descendo pelo rio Mundaú, o qual subiu 15 metros e chegou a atingir três metros de altura. O resultado foi uma usina completamente arruinada, que teve as suas máquinas e os seus equipamentos levados pela correnteza, além de buracos de grande profundidade no solo, paredes arrancadas, e barracões, armazéns, laboratórios e escritórios todos arruinados.
Naquele mesmo ano, dias após a enchente, João Lyra foi até o local, e segundo relatos, ele assegurou aos trabalhadores que a Laginha não pararia de moer, uma vez que tinha o conhecimento do quanto ela era uma importante fonte de renda para eles. Com isso, Lyra e a sua equipe de profissionais da empresa reergueram, em um tempo considerado recorde, uma usina que se encontrava assolada. O investimento na recuperação custou mais de R$ 30 milhões.
Sendo assim, ainda em 2010, no dia 12 de dezembro, a Laginha voltou ao funcionamento, garantindo milhares de empregos. No entanto, a Usina não conseguiu se recuperar das dívidas, e dois anos depois, as suas atividades pararam. Foi decretada a Falência do Grupo João Lyra, que atualmente tem uma dívida superior a R$ 3 bilhões e parte do seu patrimônio sob a tutela da Justiça.
Além da Usina Laginha, em 1974, João Lyra presidiu a filial Usina Uruba em Atalaia (AL). No ano seguinte, exerceu esse mesmo cargo na filial Usina Guaxuma em Coruripe (AL), a qual foi considerada a mais moderna do Nordeste. Já em 1988, ele passou a presidir a filial Usina Triálcool em Ituiutaba (MG), tornou-se sócio gerente da SAPE em Atalaia (AL) e em 2001 presidiu também a Usina Vale do Paranaíba em Capinópolis (MG).
Diante de suas experiências profissionais, Lyra presidiu também o Sindicato da Indústria do Açúcar do Estado de Alagoas entre os anos de 1971 e 1974. E a partir de 1995, tornou-se presidente da Associação dos Produtores Independentes de Açúcar e Álcool de Maceió.
A trajetória política de João Lyra iniciou em junho de 1982, quando lançou a sua candidatura ao Senado Federal por um grupo de dissidentes do Partido Democrático Social (PDS), partido que apoiava o regime militar instaurado no país em 1964. No entanto, o seu nome foi lançado pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), agremiação oposicionista à qual os dissidentes se filiaram. Contudo, Lyra foi derrotado por Palmeira, eleito em novembro daquele ano para o Senado.
Novamente candidato ao Senado em 1986, o político foi partidário da candidatura de Fernando Collor ao governo de Alagoas. De acordo com o jornalista Mário César Conti, Lyra designou o empresário Paulo César Farias, o P.C. Farias, para coordenação financeira da campanha de Collor, que negou-se a lhe dar apoio exclusivo, por não querer se indispor com os outros candidatos ao Senado, o que levou Lyra a suspender sua contribuição para a campanha do candidato. Nessa mesma eleição, João Lyra voltou a ser derrotado.
Lyra assumiu o mandato de senador no dia 2 de janeiro de 1989, substituindo o titular, Guilherme Palmeira, que foi eleito prefeito de Maceió em novembro de 1988. Em 1990, o político ingressou no Partido Social Cristão (PSC). Permaneceu no Senado até o fim da legislatura, em janeiro de 1991, e nesse mesmo ano, transferiu-se para o PMDB.
Em 1995, João Lyra filiou-se ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e em 1997 ingressou no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em outubro de 2002, foi eleito o deputado federal mais votado por Alagoas. Assumiu o mandato em fevereiro de 2003 e integrou as comissões de Agricultura e Política Rural, a da Amazônia, de Integração Nacional, de Desenvolvimento Regional, de Constituição e Justiça e de Cidadania, de Economia, Indústria e Comércio e de Economia, Indústria, Comércio e Turismo.
No pleito de outubro de 2006, Lyra concorreu ao governo de Alagoas na legenda petebista, mas foi derrotado por Teotônio Vilela Filho, que foi eleito no primeiro turno. Em janeiro de 2007, ele deixou a Câmara dos Deputados ao final da legislatura por motivos particulares. Reelegeu-se deputado federal em 2010. Em 2014, ficou como suplente.
Atualmente, João Lyra vivia recluso em um apartamento na Ponta Verde, em Maceió, sob os cuidados de parentes. Ele foi casado com Solange Lyra. Uma de suas filhas, Teresa Collor, foi casada com Pedro Collor.