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Adelino Vieira da Silva – O Mestre Adelmo do Guerreiro

Mestra Adelmo dedicou 43 anos ao folguedo mais simbólico de Alagoas.

Phablo Monteiro
Por: Phablo Monteiro
22/08/2021 às 14h28 Atualizada em 02/09/2021 às 18h24
Adelino Vieira da Silva – O Mestre Adelmo do Guerreiro
Adelino Vieira da Silva, o Mestre Adelmo do Guerreiro.

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Adelino Vieira da Silva nasceu no município de Atalaia (AL), no dia 20 de julho de 1927, filho de José Francisco da Silva e Alice Vieira da Silva. Foi exatamente neste período (1927-1929) que surgia em Alagoas o Guerreiro, do qual Adelino foi Mestre (MESTRE ADELMO) e um dos seus maiores nomes.

Foi casado com Benilda Bezerra da Silva, com quem teve três filhas: Maria Lúcia da Silva, Maria de Lourdes da Silva e Andreia Vieira da Silva.

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Seu amor pela cultura popular começou aos 13 anos de idade, se encantando pelas cantigas dos guerreiros que se apresentavam na Fazenda Caradaço, da Usina Brasileiro, neste município de Atalaia. 

O Major Sabino de Moraes, senhor dos Engenhos Cacau e Vitória nunca deixava de chamar, nas festas natalinas, um bom Guerreiro para se apresentar no terreiro da Casa Grande, onde reunia todos os moradores e recebia os curiosos visitantes. 

Nesta época o Guerreiro era acompanhado apenas por uma viola e um pandeiro, e já encantava a todos, incluindo o jovem Adelino, que não faltava a uma apresentação.

Aos 17 anos de idade começou a brincar Guerreiro, em Atalaia, no Barreira Pesada. Foi influenciado por João Inácio, um grande Mestre de Guerreiro de Atalaia.  

Aos 19 anos de idade já estava integrado ao Guerreiro de Pedro Moreira, na Fazenda Cauã. Já mais moderno, o Guerreiro de Pedro Moreira era acompanhado por uma sanfona, tambor e pandeiro. As figuras também aumentavam: um palhaço, dois mateus faziam parte do elenco.

Reconhecidas as qualidades de Adelino, foi logo colocado na frente do bandeirinha, passando logo em seguida a embaixador.

Em 1948 passou a figurar no Guerreiro Treme Terra da famosa mestra Joana Gajurú. Era o índio Peri. Três anos depois, já era mestre deste Guerreiro.

“Deus te salve Casa Santa

Onde Deus fez a morada

Onde está o cálice bento

E a Hóstia consagrada”. 

Com esta loa, em que os figurantes dos guerreiros saúdam o Deus Menino nas lapinhas do Natal ou o Divino na Igreja do lugar que vão se apresentar, que Mestre Adelmo fazia a saudação.  

Em 1964 preferiu organizar o seu próprio grupo, que também se chamou Treme Terra e fazia mesmo a terra tremer debaixo dos pés dos figurantes, que em competição com o Treme Terra da Gajurú, já que muitas das vezes se apresentavam na mesma festa só para o público torcer por um ou por outro, aplaudindo o que pisasse mais forte, acompanhado pelos gritos do Mestre e o ritmo do tambor.

O seu Guerreiro ficou tão famoso quanto da Gajurú. Daí em diante passou a ser procurado pelos folcloristas Aluisio Vilela, Valdo Brandão, Valdo Omena e Téo Brandão. Com este último, viajou para Fortaleza, Paraíba e outros lugares.

O seu grupo era composto de 30 figurantes e era mais conhecido como Guerreiro do Mestre Adelmo de Branca de Atalaia, embora ele preferisse o nome primitivo (Treme Terra), “porque guerreiro que se preza faz mesmo a terra tremer” e o dele não fugia a essa premissa.

“Um mestre para ser bom tem que saber as 25 partes do guerreiro e,  igual a mim, bom como eu, só o mestre Adelmo de Atalaia”, destacou Mestre Jayme, em reportagem para a Secretaria de Cultura de Alagoas.

Vários mestres do Guerreiro alagoano muito aprenderam com o atalaiense Mestre Adelmo, a exemplo do Mestre Nivaldo Abdias Bomfim, Mestre Iraci Ana, Mestre Cicinho, entre outros. 

“Um dos pontos de destaque do Guerreiro do Mestre Adelmo era o episódio da guerra, um grande combate de espadas, retratando, quase que fielmente, a luta dos colonizadores tentando invadir uma nação indígena”, destaca o site ABC das Alagoas.

Mestre Adelmo lutou tenazmente para manter o grupo atuante como forma de fazer continuar viva a chama desta manifestação folclórica tipicamente alagoana, o Auto dos Guerreiros, grupo multicolorido de dançadores e cantores, parecidos com o Reisado, mas com maior número de figurantes e episódios, maior beleza nas músicas e nos trajes, com calções de seda vistosas, chapéus cobertos de espelhos, contas de aljôfar e fitas coloridas que cobrem as costas dos figurantes até a cintura, cujas formas dos chapéus lembram as Igrejas e catedrais.

Mestre Adelmo, em fins do ano de 1997, já estava acometido pelo diabetes e hipertensão. Ainda assim, organizou na Casa de Cultura de Atalaia, o Guerreiro Mirim, na esperança de poder deixar em Atalaia um grupo em um só lugar, que pudesse se apresentar sem aquele vai e vem de cidades, Atalaia, Arapiraca, Maceió e Murici, para reunir os figurantes.

Até conseguiu formar o grupo, reunir jovens interessados em dar continuidade ao folclore, mas, infelizmente, esbarrou na falta de apoio e o grupo assim se desfez.      

Mestre Adelmo faleceu em 12 de junho de 1998. Dos seus 60 anos de idade, foram mais de quatro décadas de dedicação à cultura, ajudando a consolidar este folguedo popular que é o Guerreiro, para Alagoas e outras regiões do Brasil.

A vida dedicada ao folguedo mais simbólico de Alagoas, a paixão observada pelo público quando Mestre Adelmo se destacava diante das vestes e indumentárias, fizeram com que Mestre Adelmo se tornasse um dos maiores símbolos do Guerreiro de Alagoas.

Guerreiro do Mestre Adelmo, de Branca de Atalaia. Foto: História de Alagoas, Edberto Ticianeli.

Foto: Arquivo Familiar.

* Este texto é uma adaptação e uma ampliação das informações contidas no artigo "Morre Mestre Adelmo, o guerreiro incansável", da edição de junho de 1998, do jornal Folha Atalaiense. 

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