Ativa em sua missão de proclamadora do Evangelho de Jesus Cristo, a 1ª Igreja Batista em Atalaia, que também é a primeira Igreja Evangélica instalada na cidade, comemora nesta quinta-feira, dia 04 de novembro, 114 anos de sua organização no município.
A história da centenária Igreja teve início após licença concedida pela 1ª Igreja Batista de Maceió, em 01 de novembro de 1907, através de cartas de transferências, onde dezoito membros oriundos daquela Igreja, se reuniram às 08 horas da noite do dia 04 de novembro de 1907, em um salão na antiga Rua Generalíssimo (atual Rua Marechal Deodoro), para organizar em Atalaia, uma Igreja Batista da mesma fé e ordem das Igrejas Batistas espalhadas pelo mundo.
O culto solene contou com as presenças dos reverendos missionários Salomão Ginsburg, de Pernambuco (1º Pastor), Dr. D. L. Hamilton, da Bahia, pastores Pedro Falcão, de Maceió, Augusto Santiago, de Gravatá-PE, Manoel Guimarães, seminarista residente no Recife, Manoel Rosalvo da Silva, secretario da Primeira Igreja Baptista de Maceió, de irmãos moradores na cidade e uma parte do povo atalaiense.
Esse fato foi registrado em ATA: “Acta da sessão de installação da Egreja Baptista da cidade de Atalaia. Aos quatro dias do mez de novembro do anno de mil novecentos e sete, num salão a Rua Generalíssimo, na cidade de Atalaia, Estado de Alagoas, as 8 horas da noite, presentes os reverendos missionários Salomão Ginsburg, de Pernambuco, Dr. D. L. Hamilton, da Bahia, pastores Pedro Falcão, de Maceió, Augusto Santiago, de Gravatá, Pernambuco, Manoel Guimarães, seminarista residente no Recife, Manoel Rosalvo da Silva, secretario da Primeira Egreja Baptista de Maceió e irmãos moradores nesta cidade e uma parte do povo atalaiense foi, pelo Reverendo Salomão Ginsburg, unanemente eleito Presidente, tendo como Secretário o irmão Manoel Rosalvo, aberta a sessão com o cântico de um hymno, oração e leitura da Palavra de Deus. O Presidente explicou o motivo da reunião que é a organização de uma Egreja Baptista da mesma fé e ordem e todas as Egrejas Baptistas Regulares espalhadas pela supperficie do mundo, com os membros da Primeira Egreja Baptista de Maceió que para este fiin apresentam a seguinte autorização: ‘Maceió, 1º de Novembro de 1907. Caríssimos Irmãos da Cidade de Atalaia. Saudações no Senhor. A Primeira Egreja Baptista de Maceió, conside-rando o vosso pedido a bem do trabalho evangélico neste Estado resolveu em sua sessão extraor-dinária realizada em 30 de outubro de 1907 conceder-vos licença para vos organizar em Egreja da mesma fé e ordem”.
O pioneirismo da missão evangelizadora da Igreja Batista em Atalaia é anterior a esta data, tendo iniciado por volta do ano de 1893, quando o pastor João Gualberto Batista, da IB de Maceió, enviou um evangelista à cidade. O missionário Jefte Hamihon, ao chegar a Alagoas (1901), reiniciou a pregação do Evangelho em Atalaia, enviando a cidade o diácono Francisco Sandes para continuar a obra.
Em publicação nas redes sociais, Francisco Bonato Pereira nos conta a dificuldade que o diácono enfrentou em sua pregação do Evangelho de Cristo em Atalaia. “Este irmão voltou a Maceió debaixo de terríveis perseguições. Salomão Ginsburg, em relatório enviado à Missão, descreveu o fato dizendo: ‘Ontem, voltei do Estado de Alagoas, onde uma grande perseguição rompeu em Atalaia. Um grupo de romanos tinha entrado na sala onde o irmão Sandes estava pregando e quebrando todos os bancos, cadeiras, lamparinas, etc. Felizmente os crentes saíram ilesos. Ginsburg procurou o Governador Euclides Vieira Malta, que prometeu pagar os prejuízos da Igreja”.
Se não bastassem as dificuldades geográficas enfrentadas pelos membros da Igreja para estabelecer uma frente missionária na cidade, por conta do difícil acesso em decorrência da má qualidade das estradas, os batistas tiveram que enfrentar grande perseguição de lideranças da Igreja Católica Romana. “Se utilizando da influência dos padres sobre os políticos e chefes de polícia para provocar e agredir a minoria religiosa”, destaca Francisco Bonato.
Em 04 de fevereiro de 1909, menos de dois anos após a organização da IB de Atalaia, o missionário SPIES P. W. escrevia um artigo para a Revista The Advent Sabbath Review and Herald, onde descrevia a situação de conflito vivida por protestantes no município de Atalaia. “Os protestantes são geralmente desprezados pelos católicos, e são chamados de cabras. Muitos estão convencidos da verdade, mas obedecê-la significa não só dar as costas à Igreja Católica, mas também ser desprezado por amigos e parentes. A pessoa que faz isso fica de repente sozinho; e não só isso, mas é com dificuldade que ele pode encontrar emprego. Mas, à medida que é apresentada a verdade, vemos como está influência a vida das pessoas que a ouvem; e nossa confiança está no Senhor, pois, sabemos que a sua palavra não retorna vazia, mas realiza o propósito para a qual é enviada”.
Na década de vinte, durante uma campanha de evangelização, um homem entrou armado no salão de cultos, onde ameaçou matar o pastor Manoel Guimarães. Estava acompanhado de um grupo armado com paus, adagas e revólveres, para atacar a Igreja. O pastor Guimarães teve a arma apontada em sua direção, mas a intervenção de um crente livrou aquele servo de Deus da morte.
Francisco Bonato, trazendo relatos de um antigo membro da Igreja Batista de Atalaia, a irmã Elze Cardoso, nos conta ainda que na década de 50, em um período de avanço das Igrejas Protestantes, um movimento que condenava os que procuravam alternativas à religião católica, trouxeram algumas situações críticas para a Igreja Batista em Atalaia. “Numa de suas famosas “Missões”, incitou o povo a invadir o templo Batista, destruir o mobiliário e bater nos crentes. Em várias ocasiões, foi necessário recorrer ao Prefeito da cidade de Atalaia, José Lopes Duarte, pessoa esclarecida e amiga dos membros da Igreja Batista, para pedir socorro e impedir maiores atrocidades”.
“A IB de Atalaia, todavia, não viveu somente de sofrimentos, porque, quanto maior era a dificuldade, mais era o desejo de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo às pessoas”, destaca Francisco Bonato em seu artigo.
Em 1928 foi organizada uma Igreja na Fazenda Monte Santo (OJB, de 04.04.1929, p.13), que durou até a mudança dos membros. Em 1950 duas congregações haviam nos povoados de Jenipapeiro e Bittencourt, dirigidas pelos diáconos Trajano Bonfim e Agripino Fernandes Prado. “Cabe destacar que para alcançar estas localidades os crentes se deslocavam à noite, portando lamparinas a querosene”, comenta Francisco Bonato.
Ao longo desses 111 anos a 1ª Igreja Evangélica Batista de Atalaia foi dirigida pelos seguintes pastores: Salomão Ginsburg (fundador, 1907), Pedro Falcão (1908-1910), Manoel Virginio de Souza (1910-1912), Eloy Correa de Oliveira (1914-1918), Manoel Guimarães (1918-1920), Euthiquio Ramos de Vasconcelos (1921-1928), Albérico Alves de Souza (1934-1936), Felinto Alves Costa (1936-1938), Tiago Nunes de Lima (1938-1941), John Lankford Bice (1928-1934 e 1941-1946), Charles F. Stapp (1947-1951), Boyd Allen O'Neal (1951-1953), Angélico Gomes (1953-1985), Jonas Bispo Pereira (1985-1990) e David Fragoso (1990-2006), Carlos Rubens (2006-2008), Missionário Valdson Melo (2009-2018), Pastor João Tertuliano (2018-2019), Pastor Jedson (2019-2021) e atualmente, a Igreja tem como pastor presidente interino, Pastor João Tertuliano.
Ligada a Convenção Batista Brasileira e Alagoana, a primeira IB de Atalaia encontra-se hoje com seu templo reformado, no mesmo local onde foi organizada, na Rua Marechal Deodoro da Fonseca e continua proclamando o Evangelho de Jesus Cristo, comprometida em amar a Deus e uns aos outros, vivenciando esse relacionamento de fé em grupos, de casa em casa, como também nos grandes ajuntamentos de celebração.
Atualmente várias outras Igrejas Batistas estão organizadas no município de Atalaia, com autonomia total entre elas, mas seguindo o Pacto das Igrejas Batistas, totalmente fundamentado nos princípios bíblicos.
Pastor Salomão Ginsburg
Judeu convertido ao cristianismo, Salomão Luiz Ginsburg nasceu na Polônia em 06 de agosto de 1867. Saíu da sua terra natal para a Inglaterra, onde foi evangelizado. Chegou ao Brasil, onde conheceu o missionário Zacarias Clay Taylor, que o convenceu de que os batistas realizavam o verdadeiro batismo bíblico, batizou-se nessa denominação. Casou-se em 1893 com Emma Morton Ginsburg, também missionária norte-americana, com quem teve seis filhos.
Em 1891, criou o Cantor Cristão, hinário das Igrejas Batistas no Brasil. Fundou o Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, localizado na cidade de Recife (PE) e foi secretário da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira.
Foi preso em 9 de janeiro de 1894 na cidade de São Fidélis ao pregar o evangelho, mas depois de 10 dias foi solto. Nesta cidade, atualmente existem mais de trinta Igrejas Batistas.
Em 1902 organizou a Igreja Batista de Penedo e em 1907 a de Atalaia.
Faleceu em 1927, deixando escrita a sua biografia num livro chamado Um Judeu Errante no Brasil, publicado pela JUERP em 1932, traduzido pelo pastor Manuel Avelino de Souza.
Pastor David Fragoso
Nascido em 01 de janeiro de 1944, na cidade de Rio Largo – AL, David Fragoso estudou Teologia no Seminário de Feira de Santana, na Bahia. Pastoreou as Igrejas de Dario Meira e Acaraci, também na Bahia.
Veio à Alagoas pastorear as Igrejas de Atalaia e Maribondo em março de 1990. Sua posse na 1ª Igreja Batista de Atalaia foi em abril daquele mesmo ano. Na Igreja de Maribomdo, permaneceu por cinco anos.
Em outubro de 2006, após quase 17 anos de ministério em Atalaia, tendo organizado as Congregações Peniel em Branca de Atalaia e Shama em Santo Antônio, entregou à CBAL a direção da 1ª Igreja Batista, transferindo residência para a Vila José Paulino, onde organizou uma Congregação, a Congregação Batista CANÁ.
“Com a saúde comprometida, em 2008 foi vítima de um ataque cardíaco, que o levou para a glória, deixando em Atalaia um legado de amizade e carinho por todos”, destaca seu filho, João Marcos, missionário na CBCANÁ, em Atalaia.