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Lula Monstrinho: do ECO a quase tricampeão mundial com a Seleção Brasileira

Lula chegou ao ECO com apenas 16 anos, jogando incialmente como meia-esquerda. Depois virou goleiro.

28/08/2024 às 19h02 Atualizada em 05/09/2024 às 09h26
Por: Phablo Monteiro
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Lula Monstrinho com a camisa do Esport Club Ouricuri de Atalaia.
Lula Monstrinho com a camisa do Esport Club Ouricuri de Atalaia.

Luís dos Santos Costa, o Lula, nasceu em Maceió no dia 16 de janeiro de 1942. O menino Lula cresceu jogando nos campinhos improvisados da capital alagoana, ao lado de seu irmão Boleado e outros amigos. Na década de 50 é descoberto pelo alagoano e ex-jogador de futebol Eduardo Montenegro, o popular Dudu, que o leva junto com seu irmão Boleado, para treinar no juvenil do Deodoro. Foi na equipe da Praça Deodoro, treinado por Dudu, que Lula inicia sua formação no futebol.

Dudu já havia sido campeão pelo juvenil do América e, repetindo o sucesso no juvenil do Deodoro, chamou a atenção dos dirigentes da equipe atalaiense do Esporte Clube Ouricuri, o ECO da Usina Ouricuri, que tinha a ambição de melhorar sua equipe profissional visando a disputa do Campeonato Alagoano. 

Em 1958, Dudu é contratado para treinar a equipe atalaiense. Chega a Usina Ouricuri trazendo três importantes reforços para a equipe rubro-negra, os irmãos Lula e o zagueiro Boleado, e também outro jovem atleta, o Bá.

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Lula chegou ao ECO com apenas 16 anos, jogando incialmente como meia-esquerda. Mas, com a contusão do goleiro Toneca, que tinha quebrado o braço, o técnico Dudu, já conhecedor das habilidades de Lula, o convenceu a colaborar no gol, para “quebrar um galho” para a equipe.  

Contudo, Lula jogou tão bem como goleiro que não voltou mais para sua antiga posição. Na disputa do Alagoano de 1959, o primeiro do ECO, formava a escalação da equipe junto com Bobô, Boleado, Tante, Pato, Orlando, Pretinha, Rolando, Ioquinha, Bá e Ferro. Neste ano o ECO terminou o primeiro turno na terceira colocação, a frente do poderoso CRB. No segundo turno, é derrotado por 1 a 0 para o Capelense e empata em 0 a 0 com a Ferroviária. O campeão de 1959 foi o Capelense.

Lula foi campeão com o ECO do Torneio Início do Alagoano de 1959. A competição foi realizada no dia 2 de agosto, na semana que antecedia o campeonato Alagoano. As defesas milagrosas do jovem arqueiro nesta competição, correram os noticiários esportivos do Nordeste, fazendo com que ele ganhasse o apelido de “Lula Monstrinho”.

Nesta foto do ECO, Boleado é o quinto agachado, a partir da esquerda, e Lula, o último.

O sucesso do ECO nestas competições chamou a atenção do CSA, que fez convite ao técnico Dudu para dirigir a equipe no começo de 1960. Dudu não apenas aceitou o convite, como levou para o Azulão do Mutange, o goleiro Lula.

Com Lula Monstrinho no gol, Dudu armou uma boa equipe que chegou a ser campeão alagoano em 1960, com apenas 18 anos de idade.

O jovem arqueiro não demorou muito no CSA, pois nos últimos meses de 1961, acertou sua transferência para o Clube Náutico Capibaribe, chegando no Recife no começo de 1962, para defender as cores do maior Náutico da história, hexacampeão pernambucano, tricampeão da Copa Norte e vice-campeão brasileiro.   

Quando Lula Monstrinho chegou ao Recife, o Náutico contava com o goleiro Waldemar, grande ídolo do Timbú desde 1957. Mas, uma confusão envolvendo Waldemar e o dirigente do clube, José Porfírio, fez com que o experiente goleiro deixasse o clube pela porta dos fundos, assinando contrato com o rival Santa Cruz.  

A saída de Waldemar foi crucial para a ascensão de Lula Monstrinho, que naquela década de 60 escreveria uma das mais belas histórias do futebol nordestino, se transformando em um dos maiores nomes do Timbú, considerado até hoje o maior goleiro da história do alvirrubro pernambucano.

Fez sua estreia em um amistoso contra o Central, substituindo Waldemar na segunda etapa do jogo realizado em um domingo, no estádio Pedro Victor, atual Lacerdão. O resultado foi empate em 2 a 2, talvez pelo nervosismo da estreia, Lula sofreu os dois gols em bolas que foram consideradas defensáveis. 

Lula era um atleta à frente do seu tempo. Numa época em que a parte física dos jogadores ainda era pouco explorada, sendo comum até mesmo se ver jogadores que fumavam, Lula se destacava pelo seu preparo físico acima da média, em especial por sua impulsão excepcional. E por isso recebeu o apelido de Lula Monstrinho.

“Lula foi dono da meta do Náutico desde o início. Já em 1963, no primeiro dos seis títulos seguidos do hexacampeonato pernambucano do time recifense Lula já encabeçava uma escalação que entrou para a história do Timbu. Aquele time, conhecido como intocáveis, que contava com nomes como o ataque de Nino, Nado, Bita e Lala. Lula era conhecido por sua impulsão e qualidade debaixo das traves”, destaca Lucas Paes, no artigo “O Monstrinho Lula, o maior goleiro da história do Náutico”.

Embaixo das traves, fez parte da geração dos “Intocáveis”, time hexacampeão pernambucano entre 1963 e 1968, um feito jamais alcançado por outro time em Pernambuco. Lula foi um dos pilares destas conquistas. Foi também o goleiro titular no tricampeonato da Copa Norte, conquistados de forma consecutivas, entre 1965 e 1967.

Com Lula no gol, o Timbu foi semifinalista da Taça Brasil em 1965 e 1966. Em 1966 eliminou o Palmeiras de Ademir da Guia, nas quartas de final. Naquela mesma edição, aconteceu o jogo inesquecível para Lula, quando o Náutico derrotou o Santos de Pelé, em plena Vila Belmira, por 5 a 3, com quatro gols do atacante Bita e muitas defesas de Lula Monstrinho nos chutes do Rei Pelé.

Em 1967, ele foi um dos grandes responsáveis pela histórica campanha que levou o Náutico até a grande final da Taça Brasil (Campeonato Brasileiro da época). Primeiro, o Náutico desclassificou o Atlético Mineiro nas Quartas de Final. Depois, com defesas milagrosas do goleiro Lula Monstrinho, parou o poderoso Cruzeiro de Tostão na semifinal. 

O Cruzeiro era o atual campeão brasileiro de 1966, tendo derrotado o poderoso Santos de Pelé. Na semifinal de 1967, precisando do resultado, atacou o Náutico com toda a qualidade que tinha a equipe liderada por Tostão, mas nada passava por Lula Monstrinho naquele dia. O goleiro foi o grande responsável por garantir o 0 a 0, que classificou o Náutico para a grande final contra o Palmeiras e credenciou ao Timbú, disputar a Taça Libertadores da América, em 1968, fato até então inédito entre os clubes pernambucanos.

Na grande final contra o Palmeiras, a Primeira Academia de Futebol, foram derrotados pelo time de Ademir da Guia. No primeiro jogo, vitória do Palmeiras por 2 a 0 em plena Ilha do Retiro. Na partida de volta, o Náutico venceu por 2 a 1. A decisiva partida foi no Maracanã, com César Maluco e Ademir da Guia garantindo o triunfo por 2 a 0 e o título para o alviverde.

“Não esqueço o que fez no Pacaembu em 1967. Pegou demais no primeiro tempo da partida com o Palmeiras. Machucado, deu lugar a Válter Serafim, que o imitou na vitória por 2 a 1. Pegou tudo, também. Não lembro quem levou o gol do Palmeiras. Sei que Lula foi exuberante. Não se recuperou e Válter foi o titular no Maracanã, acho que uns três dias depois, no jogo final da Taça Brasil. O Palmeiras venceu por 2 a 0, o Náutico comemorou o vice no bar Amarelinho, na Cinelândia. E eu estava lá naquele 30 de dezembro de 1967. Lula foi inigualável”, comenta Paulo Moraes para a Coluna ALÔ, ALÔ, SAUDADE do Blog do Lenivaldo Araguão.

A performance de Lula Monstrinho despertou o interesse das grandes equipes do eixo Rio-São Paulo. O Santos de Pelé mostrou interesse em contratar o arqueiro alagoano, sendo descartado pela diretoria do Náutico, o que representou uma grande decepção para Lula.

O Sport Club Corinthians Paulista chegou forte na disputa e desembolsou um alto valor para contratar o goleiro, firmando o negócio em 1968. Lula chegou ao Parque São Jorge com o status de um dos melhores goleiros do Brasil. No Corinthians, Lula era titular em um time que tinha como base: Lula, Osvaldo Cunha, Ditão, Luiz Carlos e Pedrinho, Dirceu Alves e Rivelino, Paulo Borges, Tales, Benê e Eduardo.

As grandes performances no clube do Parque São Jorge o projetaram para defender a Seleção Brasileira. Foi convocado em 1969 pelo então técnico João Saldanha, para disputar partidas amistosas e também das eliminatórias para a Copa do Mundo do México de 1970.  

Em 13 de julho de 1969, participou do amistoso em que o Brasil enfrentou a Seleção Pernambucana. Mas, sua estreia oficial pelo Brasil foi na vitória por 6 a 0 diante da Venezuela.

Era cotado pera ser o companheiro do goleiro Félix, mas acabou sendo cortado da convocação do técnico e seu conterrâneo Zagallo, porque se machucou pouco antes do torneio. Em seu lugar, Zagallo chamou o seu companheiro de Corinthians, o Ado. Lula confidenciava a seus amigos que tinha totais condições de ser o goleiro titular do Brasil naquela Copa.

Em depoimento publicado pela revista Placar em 26 de março de 1971, Lula afirmou que só ficou sabendo de sua dispensa do escrete canarinho por meio dos jornais e revistas da época. antes da convocação oficial.

Porém, segundo Lauthenay Perdigão, uma lesão acabou tirando o arqueiro alagoano do Mundial. "O Lula por muito pouco não foi o terceiro alagoano a vestir a camisa do Brasil numa Copa. Quando o técnico foi João Saldanha, o Lula foi convocado para ser o reserva do Félix. Porém, o Zagallo assumiu tempos depois e preferiu chamar o Leão. Ainda assim, fez parte da lista de jogadores que ficaram de sobreaviso", explicou. Após esse episódio, Lula perdeu espaço no Corinthians, que agora apostava no crescimento do gaúcho Diogo e do catarinense Ado.

Após um verdadeiro clássico pernambucano para ter seu passe, em 1970, o goleiro deixou o Parque São Jorge para voltar ao Recife, só que desta vez para defender as cores rubro-negras do Sport. O Náutico também queria seu retorno, mas as manobras da diretoria do Sport Recife, garantiram a contratação.

Jogou pelo Sport Recife as temporadas 1970/71, quando após o fim do contrato, retorna para a casa onde é um dos seus maiores ídolos, o Náutico. Pelo Timbú, disputou a temporada de 1972, a última de sua carreira. 

Problemas na coluna, o forçaram a pendurar as luvas prematuramente, com apenas 30 anos de idade. Pelo Náutico foram 174 jogos.

Diziam que ele era um verdadeiro monstro no gol. Com seu 1,83 m, voava para agarrar as bolas, sempre sem luvas, contava que não se sentia seguro usando o acessório. “Lula Monstrinho sempre foi um goleiro fora de série, um líder naquele grande time da década de 60. Foi um dos melhores goleiros com quem trabalhei no Náutico, junto com Mazzaroppi e Neneca. A bola por cima era o forte dele. Na altura, ele não perdia uma” – Severino Matias de Carvalho, o Araponga, 73 anos de vida e 46 como roupeiro do Timbu. 

“O Lula Monstrinho era bom de todo jeito. Muito alto, forte e corajoso, nunca teve medo de sair na bola. Foi um goleiro extraordinário. O melhor arqueiro que vi em 1968, naquele ano que fomos para a Libertadores” – Roberto Cavalcanti, 56 anos, empresário.

Seguiu morando no Recife, cidade onde faleceu em dezembro de 2014, aos 72 anos. O velório e o sepultamento ocorreram neste sábado (27), no Cemitério Parque das Flores, no bairro de Tejipió, em Recife. O ex-jogador lutava contra um câncer na garganta. 

LULA MONSTRINHO

Ninguém lembra.
Lula parou o Palmeiras em 1967.
Náutico 2×1 em São Paulo.
E Dudu quebrou Lula.
Sem querer… mas quebrou.
Com Lula em campo?
O Náutico teria sido campeão da Taça Brasil.
Lá no Maracanã.
Na lua de mel do Divino.
Ou não.
Mas tal era o pavor que o Monstrinho causava.
Que a análise permanece apropriada.
Lula foi o maior goleiro da nossa história.
Um alagoano pernambucano.
Não fosse Alagoas pernambucana.
Lula que só foi pra seleção jogando no Corinthians.
Coisas da CBD.
Lula que hoje completaria 80 anos.
Lula que era a linha Maginot sem Ardenas.
Inexpugnável.
Intransponível.
Inesquecível Monstro do gol…
Por: Roberto Vieira     

Certa vez em entrevista, o maior jogador de todos os tempos, Pelé, após ser questionado sobre os adversários que mais o impressionou no auge do Santos, apontou “o Cruzeiro de Tostão, o Palmeiras de Ademir da Guia e o Náutico de Bita”.

Os jornalistas insistiram um pouco mais e pediu para Pelé destacar o que mais o impressionou. "O Náutico, de Nado, Bita Nino e Lala! Era o famoso ataque das quatro letras". Aí perguntaram-lhe segunda vez: "Mas você lembra qual a escalação completa?" E ele respondeu rindo o time dos sonhos: "Lula Monstrinho, Gena, Mauro, Fraga e Clóvis; Salomão e Ivan Brondi; Nado, Bita, Nino e Lala". Por que? Porque por duas vezes em 66 e 67, o Náutico estando perdendo numa das partidas por 3X0, virou o placar para 5X3 e na outra, virou para 5X2 depois de estar perdendo por 2X0.

Fonte: 

Artigo: “O Monstrinho Lula, o maior goleiro da história do Náurico”, por Lucas Paes, publicado no  site https://www.ocuriosodofutebol.com.br/2023/01/o-monstrinho-lula-o-maior-goleiro-da.html, em 16/01/2023.

Lula Monstrinho: hexa pelo Timbu, quase tri pela Seleção. Por Diego Toscano - 04/07/2014, https://www.nautico-pe.com.br/noticias/284/lula-monstrinho-hexa-pelo-timbu-quase-tri-pela-selecao.

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