Na véspera do Natal do ano de 1915, nascia na cidade de Atalaia, Manoel de Medeiros Salgado, que anos mais tarde seria popularmente conhecido como Seu Manú.
Era filho do senhor Manoel da Costa Medeiros e da Dona Auta Salgado de Medeiros, que tiveram uma grande prole de 18 filhos.
Seu pai, conhecido como Coronel Manoel Vicente, foi dono de engenho e político de grande influência na cidade de Atalaia na primeira metade do século XX, sendo eleito por dois mandatos consecutivos como Conselheiro Municipal (1925 à 1928 e 1928 à 1931), chegando a ocupar a Presidência do Conselho em 1927 e em 1930. Nos anos de 1931 à 1932 foi designado pelo Governador de Alagoas para assumir o comando do município como Prefeito-Interventor.
Anos mais tarde, se encanta pela jovem professora Suzana Craveiro Costa, filha do historiador Craveiro Costa e que acabará de ser designada para exercer o magistério público na cidade de Atalaia, mas precisamente no antigo Grupo Escolar Floriano Peixoto, fundado em 1935, pelo escritor Graciliano Ramos.
Contraem núpcias no dia 14 de janeiro de 1939 e desse casamento nascem cinco filhos: José Humberto, Maria Lúcia, Armênio, Osmar e Cláudio Jorge.
Dando seguimento à trajetória política do Coronel Manoel Vicente, Manoel de Medeiros Salgado e sua irmã Isa de Medeiros Duarte, foram eleitos por várias Legislaturas, vereadores do município de Atalaia. Ele com três mandatos e ela com quatro mandatos.
Manoel de Medeiros Salgado foi vereador do município de Atalaia nas Legislaturas durante toda a década de 1950. Uma curiosidade sobre esses mandatos, é que foram mandatos oposicionistas aos governos da época, dos Tenórios, já que Seu Manú sempre fez parte do grupo político de seu amigo e cunhado Zeca Lopes, que era casado com Dona Isa de Medeiros.
Em 03 de outubro de 1960 se candidata ao cargo de vice-prefeito de Atalaia pelo Partido Social Democrático - PSD, em uma chapa indicada pelo então deputado Zeca Lopes, concorrendo com os Tenórios da Ouricuri. Para prefeito, ganhou José Tenório de Albuquerque Lins, já para vice-prefeito, Manoel de Medeiros Salgado foi o eleito. Tomou posse em 23 de fevereiro de 1961.
Após o termino do seu mandato, em 1966, disputa uma cadeira na Assembleia Legislativa pelo MDB. E, apoiado pelo seu amigo e candidato a deputado federal, Aloísio Nono, obteve a significativa votação de 1.035 votos, porém insignificante para a consecução do objetivo.
Sempre se dedicou aos negócios da família, ajudando seu pai e irmãos tanto nos negócios referentes à Fazenda Salgado, como na padaria que funcionava na rua Marechal Deodoro, próximo onde hoje funciona o consultório odontológico de sua neta, Fabiana Medeiros. Após o falecimento de seu pai, Manoel de Medeiros Salgado ficou como principal administrador da Fazenda Salgado e da tradicional padaria.
Chegou a ocupar, mesmo contra a vontade de Dona Suzana e demais familiares, o cargo de delegado do município de Atalaia em um curto período.
Durante 20 anos foi presidente local da Campanha Nacional dos Educadores Gratuitos – CENEG.
“Meu pai era aquele homem que contávamos para tudo. Uma pessoa calada e que sempre gostava das coisas certas. Ele nunca dizia um não, mais era tamanho o respeito que quando queríamos pedir algo, sempre buscávamos a mamãe. Isso era devido a sua postura. Trazia o costume dos homens de antigamente, não era de está beijando e abraçando os filhos. Não há o que se falar de sua honestidade, cumpria o que prometida, seja como fosse. Um coração gigantesco para ajudar as pessoas, sem querer nada em troca. Sabíamos do seu amor”, comentou sua filha, Lúcia Medeiros.
Após a morte de sua companheira e amiga Dona Suzana, Seu Manú começou a morrer também em um profundo isolamento de lamentações pela perda da amada. E, em 20 de outubro de 1997, sete anos após a morte de Dona Suzana, é tamanha a saudade que tomava conta do coração do Seu Manú, que morre aos 82 anos de parada cardio respiratória.
“É difícil encontrar um amor igual ao que o meu pai e minha mãe tinham um pelo outro. Homem fiel, que a teve como única mulher de sua vida. Após a morte de minha mãe, ele escolheu ficar mais isolado e em muitas das vezes me diz que estava com vontade de ir se encontrar com ela”, destacou Osmar Medeiros, em umas das visitas do AtalaiaPop a sua locadoura de filmes.
“Pode-se dizer que Seu Manú morreu de tédio, de saudades da esposa. Desde que ela morreu em 27 de setembro de 1990, que ele começou a morrer também. Isoulou-se na sua surdez, recusando-se a usar o aparelho e, todos os dias chorava a morte da esposa. Pedia a Deus para morrer na mesma data e ao filho para enterra-se ao lado dela”, destacava a escritora Vandete Pacheco, na edição Ano IV, número 25, do Jornal Folha Atalaiense.
Confira na íntegra o artigo de Pedro Leandro Oliveira, publicado no Jornal Folha Atalaiense, em homenagem a Manooel Medeiros Salgado:
“Adeus a MANOEL DE MEDEIROS SALGADO (SR. MANÚ), perde Atalaia mais um homem de bem, honrado, íntegro, de carater, taciturno e de feições quase sempre ásperas, entretanto, intrinsecamente, escondia-se um homem sensível, humano e pronto para os maiores gestos de solidariedade humana, desde que convencido do objetivo pleiteado.
Agricultor nato, industrial, político e bem feitor da Educação. Incentivador do ensino, por mais de vinte anos presidiu a Campanha Nacional do Ensino Gratuito, através do Colégio Cenecista Nossa Senhora das Brotas, época em que toda a população aguardava com ansiedade o desfile de 07 de setembro, para ver o garboso Colégio Cenecista desfilar e, com orgulho de todos nós atalaienses, graças, sem dúvida alguma, ao empenho, o denodo e a vontade de D. Suzana Craveiro Costa de Medeiros e do Sr. Manú, como era conhecido por todos nós e pela população em geral. O desfile era comparado com os das grandes cidades.
Saudades todos nós estamos sentindo e, mais ainda, todos os homens de bem que privaram de sua amizade, principalmente, porque perdemos o convívio com uma figura rara nos nossos tempos: Caráter, equilíbrio e responsabilidade. Este era o Sr. MANOEL MEDEIROS SALGADO (Sr. Manú).
Essa é a imagem que ficou não só para os seus amigos, mas para toda a população de Atalaia e, principalmente para os seus filhos, que criou com todo a dignidade e respeito ao seu semelhante.
Provera o arquiteto do Universo tenha reservado para o Seu Manú uma morada de acordo com os seus méritos, para que lá possa desfrutar junto a pessoa que ele tanto amou materialmente, possa fazê-lo também em espírito”. Atalaia - AL, 31 de outubro de 1997.