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Desembargador José Jerônimo de Albuquerque

Foi juiz da Comarca de Atalaia por 22 anos.

27/05/2019 às 09h40 Atualizada em 12/06/2019 às 18h07
Por: Phablo Monteiro
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Desembargador José Jerônimo de Albuquerque
Desembargador José Jerônimo de Albuquerque

Duas décadas dedicadas ao exercício da magistratura na cidade de Atalaia. Tempo suficiente para que o capelense José Jerônimo de Albuquerque se tornasse um grande filho da terra, por seus exemplos como justo magistrado, e uma figura inesquecível para os atalaienses, principalmente para aqueles que tiveram a honra e o prazer de privar da sua convivência nas décadas de 1930, 40 e 50.

“Figura humana excelente, baixo, elegante com seu impecável terno de linho branco e com seu chapéu panamá, bem como um inseparável guarda-chuva/sol. Era a expressão pessoal da autoridade, da dignidade e do saber jurídico. Quem não o conhecia de perto, podia até achá-lo arrogante e intransigente, mas, entretanto, na convivência pessoal, era uma criatura sensata, honesta e bondosa. Dr. Jerônimo era uma pessoa dócil e caridosa”, destaca o atalaiense Getúlio Pereira Leite, em artigo publicado no Jornal Folha Atalaiense, em 1996.

Nasceu em Capela, em 01 de março de 1896, sendo seus genitores Dionísio Jerônymo Pontes de Albuquerque e Clotildes Minervina de Albuquerque.

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Casa-se com a senhora Artemia Moreira de Albuquerque, com quem tem três filhos: Nísia Clotildes de Medeiros, Tácito Xavier de Albuquerque e Natalina Cecília de Albuquerque. Teve três netas (Maria Betânia, Talma e Maria da Conceição) e também cinco bisnetos, que não teve a oportunidade de conhecer. 

Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco. Recém formado, com apenas 21 anos, ingressou no serviço público, como Promotor de Justiça na Comarca de Traipú.

“A viagem foi terrível, pois o transporte era em um burro. A duração foi de dois dias, acompanhado do serviçal que levava a maleta”, comenta sua neta, Maria da Conceição.

Depois da Comarca de Traipú, ainda como promotor, exerce esse cargo nas Comarcas de Pilar e depois de Capela, sua terra natal.

Já como Juiz de Direito, em 1934, é designado para exercer a magistratura na Comarca de Atalaia em substituição ao Dr. Domingos Correia da Rocha. Exerce com brilhantismo esse cargo na cidade de Atalaia até 1956. Tamanha longevidade em uma mesma Comarca é um fato único não só na história de Atalaia, mas talvez do próprio Poder Judiciário Alagoano.

Em Atalaia, residia na Fazenda Boa Vista, que era muito bem organizada. Nesse período, vibrava com o desenrolar dos acontecimentos na cidade. Fornecia cana para a Usina Uruba.

Em outro artigo do Jornal Folha Atalaiense, o advogado Wild Silva lembra uma passagem do magistrado em terras atalaienses. “Diariamente comparecia ao Cartório. Vinha a pé de sua residência na Fazenda Boa Vista, situada no limite urbano da cidade, trajando, de inverno a verão, um impecável terno de linho branco, diagonal S 120. Certa vez, se dirigiu a mim dizendo: - Você já viu que menino mais astucioso? Sem saber quem, perguntei pelo menino. – Aquele menino filho do enfermeiro Eurico. Era o Marquinho, hoje o engenheiro Marcos. – E não é que ele, quando eu ia passando pela porta da sua casa, manda que eu apanhe uma chimbra. E você sabe onde estava a tal chimbra? Dentro do esgoto que desemboca na sarjeta da rua. Diante daquele inocente pedido, não tive outro jeito. Com esse corpo (era gordo), consegui abaixar-me, meti a mão no esgoto e devolvi-lhe a chimbra”.

“Apesar de não ser atalaiense, amou muito Atalaia e se dedicou a sua comarca aplicando Justiça a quem tinha Direito. Foi um aplicador da Lei por excelência. Suas sentenças eram magistrais e ficaram nos anais da história de Atalaia. Juizes da estirpe de Dr. Jerônimo servem de exemplo e dignificam a Justiça Alagoana”, lembra Getúlio Pereira Leite.

Após deixar a Comarca de Atalaia, passando o “bastão” para o Dr. José Augusto da Costa Tenório, passa por um estágio na Comarca de Penedo, para, enfim, chegar por merecimento e antiguidade, ao mesmo tempo, à capital do Estado.

Com seus próprios méritos, ascendeu ao Tribunal de Justiça de Alagoas, sendo nomeado Desembargador em 25 de março de 1959. Em 25 de agosto daquele mesmo ano, é eleito Vice-Presidente daquela Corte de Justiça.

Primava pela moral. Era sinônimo de honestidade e de Justiça. Para o Desembargador José Jerônimo de Albuquerque não havia distinção, a Lei era igual para todos, seja para os poderosos, seja para os mais humildes. 

Passa três anos e oito meses no exercício do cargo de Desembargador, até se aposentar em 21 de setembro de 1962. “No último dia que ele voltou do trabalho, com lágrimas nos olhos, entra em casa e vai logo dizendo: Minha mulher, comecei a morrer”, lembra Maria da Conceição.

Entre seus hábitos, fumava sempre charutos Ouro de Cuba e Príncipe de Galles. Nós últimos anos de vida, fumava somente cigarros de palhas, feito por ele mesmo. Gostava demais de uma rede e tinha a dele com exclusividade. Passava a maior parte do tempo na rede, lendo e estudando. Falava corretamente o português e sempre era consultado por aqueles que tinham dúvidas.

“As lembranças que eu tenho dele, quando eu era criança, era ele na rede com um charuto aceso e um livro na mão. No escritório dele era silencio e muita tranquilhidade. Nós crianças, raramente entrávamos lá, pois era lugar de estudo e trabalho”, lembra sua neta Maria da Conceição.

Foi membro atuante da Maçonaria Virtude e Bondade, onde alcançou o último grau, só se afastando por motivo de saúde. É patrono da cadeira nº 14 da Academia Maçônica de Letras de Alagoas – AMLA.

Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas - IHGAL, uma das últimas pessoas com quem o Desembargador falou antes de sua morte, foi o colega Jayme de Altavilla, grande escritor e jornalista alagoano. O colega foi apanhá-lo em casa para irem juntos a uma sessão do IHAL. Adoentado, falou que achava que não iria mais. Jayme respondeu: “No próximo mês virei buscá-lo”. Sua nesta Maria da Conceição comenta que estas palavras fizeram ele ficar esperançoso e mais feliz.

José Jerônimo de Albuquerque faleceu na cidade de Maceió, vitima de infarto, no dia 01 de dezembro de 1968. Tinha 72 anos de idade.

O egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas prestou-lhe significativa homenagem, dando o seu honrado nome ao edifício do Fórum da Comarca de Atalaia. A iniciativa foi do então presidente Desembargador Jairon Maia Fernandes.

A inauguração ocorreu em 04 de dezembro de 1998 e contou com ilustres presenças como a do Desembargador Jairon Maia Fernandes, do então juiz de Direito de Atalaia Sérgio Wanderley Persiano e demais autoridades locais e do Estado, além de familiares do homenageado.

“Como esposo, serviu de exemplo para muitos. Como pai e avô, sempre foi muito preocupado e dedicado, especialmente com a saúde, a educação e a cultura de todos nós”, conclui a sua neta.

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