Luiz Jerônimo Camelo Cabral, mais conhecido com Jerônimo Miranda, o popular "Dr", nasceu no dia 26 de Janeiro de 1961 na cidade de Atalaia. Filho de Jerônimo Lopes de Miranda Cabral e Fernanda Camelo Cabral. Estudou o primário e ginásio em sua terra natal. Em Satuba fez o curso técnico de agro-pecuária. Em Maceió, no CESMAC, o Curso de Educação Artística (1986). Iniciou-se na produção artística realizando arranjos florais, com pintura à mão.
Artista plástico, autodidata, pesquisador, colecionador e marchand. Reside na cidade de Maceió desde os anos 70, onde veio a experimentar diversas técnicas do fazer artístico, tendo se concentrado nos últimos anos na pintura e na tapeçaria. Executa tapeçaria cuidadosa, prescindindo nos mais diversos materiais, com a consciência daquilo que expressa, mas sem perder o vigor na espontaneidade com que se mistura elementos cotidianos como um espelho, miçangas, cacos de vidro e uma calça jeans bordados lado a lado. Formado em agropecuária onde aprendeu a amar e respeitar a natureza, fonte de suas inspirações. Viveu e conviveu com o povo, desenvolvendo o gosto apurado pela arte de raiz.
Pinta e borda... seus estandartes estão expostos no Museu Afrobrasil em São Paulo sob a curadoria de Emanuel Araújo. Além de exposições individuais e coletivas em Alagoas e alguns estados do Brasil, como na Bienal Naifs de Piracicaba por duas vezes. Expondo tanto a pintura, como sua tapeçaria. Expôs na Espanha por três vezes sob a curadoria de Emanuel Araújo e a Galeria Estação de São Paulo.
Exposição individuais: 1982: Casa de Cultura de Atalaia; 1987: Casa de Cultura de Atalaia; 1991: Shopping Iguatemi e Unique Decorações; 1992: Produban - Agência Farol e Maceió Mar Hotel; 1994: Galeria Karandash; 1996: Secretaria da Cultura ( SP); Casa de Cultura Tomás Antônio Gonzaga, Ouro Preto (MG). Coletivas: 1990: II Art Nor, Sebrae; 1991: Casa de Cultura de Atalaia; 1995: Galeria Karandash ; INFOL - Maceió, onde criou a marca do Congresso e Promoções; Viva O Nordeste do Brasil; 2000: Porto Seguro - 500 Anos do Brasil; 2002: Arte Popular. Coleção Tânia de Maia Pedrosa, Museu Théo Brandão.
Como pesquisador da arte do homem do povo, descobriu e propagou vários artistas alagoanos nas principais galerias e Museus que dizem respeito a vertente popular. Interagiu e trocou conhecimentos com grandes intelectuais da cultura popular do Brasil, como : Joseph Baccaro, Janete Costa, Carlos Augusto Lyra, Lurdinha Vasconcelos, Tânia Pedrosa, Roberto Rugiero, Vilma Eid, Edna Pontes, Angela Mascelani, Guy Van de Beuque, etc.
Caçador de peças com inspiração popular abastece coleções alagoanas
Jerônimo Miranda roda municípios de Alagoas e do Nordeste em busca de novos artistas; experiência foi adquirida com maior marchand do País
por Larissa Bastos
Um verdadeiro caçador de tesouros. Assim pode ser definido Jerônimo Miranda, responsável pelo garimpo de peças para boa parte dos colecionadores de artefatos de inspiração nordestina. Natural de Atalaia, o marchand já rodou a grande maioria dos municípios alagoanos, revelando novos artistas e divulgando a arte local aos quatro ventos.
A afinidade com o tema vem desde o berço. A mãe era professora de educação artística e, ainda na cidade natal, ele começou a lidar com o artesanato tradicional do Estado. Já em Maceió, para onde veio na década de 1970, se desviou um pouco do caminho: montou uma floricultura, uma loja de arranjos de flores artificiais e, mais tarde, passou a vender antiguidades.
“Não deu muito certo e vi que o que me interessava mesmo era a arte. Voltei para ela e comecei a vender pinturas minhas e de outros artistas. Levava muitos itens para Recife e conheci as galerias de lá. Também vendia por meio de fotos. Tirava as fotografias, comprava dos artistas daqui e levava para fora, inclusive Rio de Janeiro e São Paulo”, conta Jerônimo.
Os objetos eram adquiridos diretamente de artesãos e em feiras de artesanato, das quais o caçador também participava. As primeiras aquisições foram de peças de Josias Saturnino, Geraldo Dantas e Saturnino João, todos de Arapiraca. Depois vieram Viçosa e a própria cidade de Atalaia e não demorou para que o marchand se tornasse também um descobridor de talentos.
A descoberta nem sempre é fácil. “Vou aos povoados, entro nas fazendas, subo e desço serra, me enfio em todo canto. Saio perguntando a um e a outro se conhecem algum artista por ali. Vou realmente caçando às escondidas mesmo, sem me basear em livros ou catálogos. Esse processo é um prazer, mas o prazer maior é mesmo quando encontro algo”, conta o caçador.
Entre os já garimpados por ele estão mestres renomados, a exemplo de Fernando da Ilha do Ferro, João das Alagoas, Sil, Antônio de Dedé, Zezinho e Moacir. Outros, como Petrônio, Gênio Silva, João Francisco, Abelardo, Neno e mestra Irinéia do Muquém, também estão na lista, assim como os de fora – incluindo os famosos Véio, de Sergipe, e Nino, do Ceará.
De acordo com Jerônimo, as peças comercializadas por ele podem variar de R$ 50 a R$ 15 mil. A fama do criador e o valor do artefato, porém, nunca tiveram importância. “Não olho pelo nome de quem fez e nem pelo custo da peça. Nada disso me interessa. Compro pela peça em si, pelo sentimento que ela me passa e pela sensibilidade que vejo no artista”, afirma.
Experiência
A experiência para encontrar as preciosidades veio com o tempo. Um ‘estágio’ com um dos maiores marchands do País, Giuseppe Baccaro – responsável pela venda de nomes como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti –, também ajudou no processo. Jerônimo conheceu o mestre por meio da colecionadora e pintora Tânia de Maya Pedrosa, uma das grandes clientes do caçador.
“Nessa época, eu comprava muito ex-votos (objetos, como pés e mãos de madeira, doados às divindades como forma de agradecimento por um pedido atendido). Fui para vários locais do Nordeste para comprar essas peças e a Tânia me comprava muitas delas. Quando ela me apresentou Baccaro, eu estava com uma coleção de 1.600 ex-votos e ele me comprou tudo”, diz.
Ele conta que precisou vender os itens por problemas financeiros e, a partir daí, ficou amigo do hoje ex-marchand. “Levei tudo para Recife de caminhonete e ele se encantou quando viu. Pagou o triplo do que me pagariam aqui. Nos aproximamos e aprendi muito. Ele não era de falar, mais fui vendo o gosto dele, o que era original e o que não era”.
Com o conhecimento, conquistou ainda mais a confiança dos colecionadores alagoanos. Além de Tânia Pedrosa, entre eles estão também o médico Fernando Gomes, o artista Lula Nogueira e a pesquisadora Carmen Omena. Atualmente, ele ainda guarda cerca de 1.500 peças – uma parte na própria casa e outra num sítio alugado apenas para essa finalidade.
Um projeto futuro, no entanto, deve abrigar todas as preciosidades mantidas por ele. Trata-se de um vagão de trem recém-comprado por Jerônimo, que, após a reforma, deve se transformar em uma galeria de arte itinerante, levando os artefatos produzidos pelos artesões alagoanos pelos 102 municípios e também para outras localidades. A ideia é rodar por todo o Brasil.
“Não estudei, mas tenho a vivência do povo e pretendo levá-la para todos os cantos que eu puder. Vou rodar com ele pelo País apresentando nossos artistas. O engraçado é que comecei a comprar essas peças para mim, porque sempre gostei de arte popular, mas me apaixonei tanto que o interesse acabou tomando essa dimensão toda”, conta o caçador de tesouros alagoanos.
Fonte: Jerônimo Miranda;
http://www.agenciaalagoas.al.gov.br;
ABC das Alagoas;
http://www.galeriaestacao.com.br.
Fotos: Arquivo Pessoal e Ailton Cruz